segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Não farei nada

Ilustr.: Alberto Pancorbo
-Ouviste bem? Sou tua. Estou aqui para provar que sou tua.
Lembras-te?
Chega a ser engraçado, agora pensar nisto. Agora que já aqui não estás, que não te tenho, e que, afinal, não me arranhaste, não puxaste os meus cabelos, não maldisseste o meu nome. Simplesmente foste embora; deixaste um bilhete e foste embora. Toma-me os lábios um sorriso triste quando me ocorre que eu te disse, assim que vieste espalhar beijos pelas minhas costas, que devia ser eu a dizer aquilo, que com certeza serias tu a primeira a ficar farta e a partir. E que tinha a certeza de que te deixaria ir, sem um gesto.
-Fico a chorar, mas não farei nada para te impedir, porque, para onde quer que vás, estarás indo para ser mais feliz.
-Não digas asneiras!
-É a sério.Eu não te mereço. E tu tens direito a alguém melhor do que eu, que te possa fazer feliz.

[Manuel Jorge Marmelo, in 'O Amor é para os parvos']

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