quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Tédio

Ilustr.: Ronald Companoca

Dizem que o tédio é uma doença de inertes, ou que ataca só os que nada têm que fazer.
Essa moléstia da alma é porém mais subtil: ataca os que têm disposição para ela, e poupa menos os que trabalham, ou fingem que trabalham (o que para o caso é o mesmo) que os inertes deveras.
Nada há pior que o contraste entre o esplendor natural da vida interna, com as suas índias naturais e os seus países incógnitos, e a sordidez, ainda que em verdade não seja sórdida, de quotidianidade da vida.
O tédio pesa mais quando não tem a desculpa da inércia.
O tédio dos grandes esforçados é o pior de todos.
Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se sentir que não vale a pena fazer nada. E, sendo assim, quanto mais há que fazer, mais tédio há que sentir.

[Fernando Pessoa]

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