Ilustr.: Gabrielle Grimard |
Um rei mandou o filho estudar no templo de um famoso Mestre, com o objectivo de o preparar para ser uma grande pessoa. Quando o príncipe chegou ao templo, o Mestre mandou-o sozinho para uma floresta. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta.
Quando o príncipe voltou ao templo, um ano depois, o Mestre pediu-lhe para descrever todos os sons que conseguira ouvir.
Então disse o príncipe:
- Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa a bater na relva, o zumbido das abelhas, o barulho do vento a cortar os céus...
Quando terminou o relato, o Mestre pediu que o príncipe voltasse à floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu à ordem do Mestre, e comentou para si mesmo:
- Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta!
Por dias e noites ficou sozinho a ouvir, a ouvir, a ouvir... mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao Mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz e pensou:
- Estes devem ser os sons que o Mestre queria que eu ouvisse.
Sem pressa, ficou ali a ouvir pacientemente. Queria ter certeza de que estava no caminho certo. Quando voltou ao templo, o Mestre perguntou o que mais conseguira ouvir.
Respeitosamente o príncipe disse:
- Mestre, quando prestei atenção, pude ouvir o inaudível som das flores a abrirem, o som do sol a nascer e a aquecer a terra e da relva a beber o orvalho da noite.
O Mestre sorriu, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse:
- Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa. Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, os seus sentimentos mudos, os medos não confessados e as queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança à sua volta, entender o que está errado e atender às reais necessidades de cada um.
A epígrafe desta história nem precisa comentários, é mesmo para ser saboreada no interior do seu coração:
"A vida contrai-se ou expande-se proporcionalmente à coragem do indivíduo."
[Anais Nin]
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