Ilustr.: Valeria Docampo |
Deve ser por isso que eu não distingo as realidades, que eu não vejo onde começa o impossível, ...
deve ser por isso que eu não escolho um destino para me assentar depois e ando a tropeçar à espera, à espera, sem mesmo disso ter perfeita consciência...
deve ser por isso que eu estendo a mão para um objecto e ele está mais longe que o comprimento do meu braço.
Deve ser por isso o meu anseio de conjunto universal, a minha curiosidade do que se disse e se escreveu, a desordem, gritante dentro e lenta fora, que em mim ondeia e me transporta e eu não sei expulsar nem quero.
Deve ser por isso que jamais lembrei o desmedido infinitamente frágil de minha alma e que, agora, lembrado e conhecido de mim mesmo, não hei-de ainda ter emenda...
(...) deve ser por isso que não consigo ser "pessoa grande".
[Jorge de Sena]
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