quarta-feira, 23 de julho de 2014

Sobre estas duras, cavernosas fragas

Ilustr.: Holly Sierra
Sobre estas duras, cavernosas fragas,
Que o marinho furor vai carcomendo,
Me estão negras paixões n'alma fervendo
Como fervem no pego as crespas vagas;

Razão feroz, o coração me indagas.
De meus erros a sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim!) palpando, e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.

Cego a meus males, surdo a teu reclamo,
Mil objectos de horror co'a ideia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo.

Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro.

[Bocage, in 'Sonetos' (LXXXIV)]

1 comentário :

  1. Anónimo17:41

    Sou como Edith Piaf, Je ne regrette rien" (não lamento nada).
    Fiz o que quis e fiz com paixão. Se a paixão estava errada, paciência.
    Não tenho frustrações, porque vivi como em um espetáculo.
    Não fiquei vendo a vida passar, sempre acompanhei o desfile.
    Mário Lago

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