Ilustr.: Andrius Kovelinas |
Nem paz nem felicidade se recebem dos outros nem aos outros se dão.
Está-se aqui tão sozinho como no nascer e no morrer; como de um modo geral no viver, em que a única companhia possível é a daquele Deus a um tempo imanente e transcendente e a dos que neles estão, a de seus santos.
Felicidade ou paz nós as construímos ou destruímos: aqui o nosso livre-arbítrio supera a fatalidade do mundo físico e do mundo do proceder e toda a experiência que vamos fazendo, negativa mesmo para todos, a podemos transformar em positiva. Para o fazermos, exige-se pouco, mas um pouco que é na realidade extremamente difícil e que não atingiremos nunca por nossas próprias forças:
exige-se de nós, primacialmente, a humildade;
a gratidão pelo que vem, como a de um ginasta pelo seu aparelho de exercício;
a firmeza e a serenidade do capitão de navio em sua ponte, sabendo que o ata ao leme não a vontade de um rei, como nos Descobrimentos, mas a vontade de um rei de reis, revelada num servidor de servidores;
finalmente, o entregar-se como uma criança a quem sabe o caminho.
De qualquer forma, no fundo de tudo, o que há é um acto de decisão individual, um acto de escolha; posso ser, se tal me agradar, infeliz e inquieto.
[Agostinho da Silva]
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