terça-feira, 7 de outubro de 2014

Anjos sem asas

Ilustr. from http://www.whispy.com/blog/angels-without-wings/
No nosso mundo, entre os seres que nos ensinaram a identificar como tal, encontramos três tipos de "pessoas". Todas circulam ao nosso redor e, por elas ou por causa delas, somos sujeitos às forças da interação num jogo de atração e repulsão de cargas.

Podereis pensar que me refiro àqueles postulados da Física relativos à interação intermolecular segundo os quais verificamos atração entre cargas opostas e repulsão entre cargas de mesmo sinal. Sim, claro que essa é a referência desta minha reflexão, mas ao contrário!

Vivemos de balança e espada na mão, mas não de olhos vendados, e emitimos o nosso juízo sobre os outros cada vez que com eles nos relacionamos.

Passo a explicar: o primeiro tipo de pessoas são aquelas que circulam fora do alcance da nossa espada e às quais nem prestamos atenção. Cada qual na sua vida, cruzam-se connosco na indiferença do trânsito, do supermercado, do local de trabalho. Ou, simplesmente, não cruzam. Entre essas pessoas haverá, com certeza, pessoas boas e pessoas más, consoante o sinal da carga que revelam. Pela forma como se apresentam ou se impõem (ou não impõem) não chegam a interferir no nosso mundo nem alteram a cor do nosso dia. São estas que, um qualquer dia, em acidentalidade ou intencionalidade, por passarem mais perto ou deixarem perceber o sinal da sua carga, se revelarão anjos ou demónios. Assim mesmo! Em puro maniqueísmo! Tudo é uma questão de tempo...

O segundo tipo de pessoas são os demónios. As pessoas más e de carga negativa. Sem meio termo. Nem o "menos bom", nem o "menos mau". Aqueles que estão na nossa vida para a infernizar: interesseiros, calculistas, sorrateiros, egoístas, invejosos, os que dão com uma mão para cobrarem com a outra, os que pisam para subir e, quando chegados ao topo, se esquecem da sua origem. Os que conseguem mentir a olhar-nos nos olhos, os que não toleram a diferença tal é a ambição, os que não conhecem o perdão senão a vingança, os frios, os vazios, os dissimulados... Enfim, os perigosos. A muitos, permitimos que entrassem na nossa vida como anjos: revelavam-se "gajos porreiros" ou "amigalhaços" para, à primeira oportunidade, no jogo da interação, espalharem a sua aura negra sobre a luz e o brilho que nos é permitido dar ao dia, em cada manhã. Por isso, geram repulsa e delas nos devemos afastar ou manter um relacionamento controlado à distância para que não seja quebrado o estado de equilíbrio das duas cargas em interação.

Finalmente o terceiro tipo de pessoas: os anjos da nossa vida. As pessoas boas e de carga positiva. Aquelas pessoas de energia positiva que atraímos (ou nos atraem para si) tal é a alegria, a serenidade e a paz que transmitem. De presença empática e afável, consciência pura e alma lavada, colocam um raio de sol em cada abraço que envolve, em cada sorriso que nos toca, em cada palavra que nos conforta, em cada silêncio que tolera e nos respeita, tal como somos. Acolhem de cara exposta e postura firme o melhor e o pior que temos para dar, respeitando diferenças, perdoando fragilidades, fazendo o bem. Terão afirmado outrora: "vou passar o meu céu a fazer o bem na terra!", como Santa Teresinha do Menino Jesus. Ora, se anjos há sobre esta terra, estas são as pessoas de aura colorida e brilhante que recebemos no coração, a quem escutamos e a quem nos entregamos, com todas as virtudes e defeitos. Simplesmente porque tornam o nosso dia mais bonito e a nós melhores pessoas.

Neste jogo de forças que regulam a interação, ora de atração ora de repulsão, fica subjacente o sinal da carga de quem aqui reflete mas permaneço firme quanto aos meus enunciados.


A esse propósito, sigo o falseacionismo de Popper:
aproxima-te e dir-te-ei em que canto da minha vida te quero.


[Luís Gonzaga, 07/10/2014]



P.S.: Em memória da Nela e de todos os "anjos" que recentemente se vestiram de Luz e regressaram à Eternidade, deixando mais sombria esta nossa vida terrena.

1 comentário :

  1. Meu Deus eram estas palavras que eu hoje mais precisava de ouvir, levei uma grande facada pelas costa de uma amiga que eu pensava que era, mas afinal estava enganada, tenho a minha Alma a chorar de tristeza desde a cabeça aos pés.
    Obrigado por estas palavras Namaste
    Isabel

    ResponderEliminar