domingo, 30 de novembro de 2014

Gente grande

Ilustr.: Katie m.Berggren




Ele (Paulo Freire) dizia que era pequeno, para poder crescer.
Gente grande de verdade sabe que é pequeno e, por isso, cresce.
Gente muito pequena acha que já é grande e
o único modo dela crescer é rebaixando os outros.

[Mario Sergio Cortella]

sábado, 29 de novembro de 2014

Temo-nos

Ilustr.: George Tooker

Porque
te tenho
para cuidar de mim
e tu me tens
para cuidar de ti...
Temo-nos
um ao outro,
é isso que
faz tremer
o inferno.

[John Steinbeck]

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

80º Aniversário

Ilustr.: Margarita Sikorskaia

"Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa.
Eu também quero ter um feitio que sirva exatamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!"

[José de Almada Negreiros, in 'A Invenção do Dia Claro', 1921]

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sartre

Ilustr.: Marian Kamensky 





Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, esta é a que mais amo:
"Não importa o que fizeram com você.
O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você."

[Rubem Alves, in 'A Solidão Amiga']

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Crianças

Ilustr.: Charles Warren Mundy
A criança está completamente imersa na infância
a criança não sabe que há-de fazer da infância
a criança coincide com a infância
a criança deixa-se invadir pela infância como pelo sono
deixa cair a cabeça e voga na infância
a criança mergulha na infância como no mar
a infância é o elemento da criança como a água
é o elemento próprio do peixe
a criança não sabe que pertence à terra
a sabedoria da criança é não saber que morre
a criança morre na adolescência
Se foste criança diz-me a cor do teu país
Eu te digo que o meu era da cor do bibe
e tinha o tamanho de um pau de giz
Naquele tempo tudo acontecia pela primeira vez
Ainda hoje trago os cheiros no nariz
Senhor que a minha vida seja permitir a infância
embora nunca mais eu saiba como ela se diz

[Ruy Belo, in 'Homem de Palavra(s)']

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A Verdade da Mentira

Ilustr.: David Martiashvili



... os humanos são universalmente conhecidos como os únicos animais capazes de mentir,
sendo certo que se às vezes o fazem por medo, e às vezes por interesse,
também às vezes o fazem porque perceberam a tempo
que essa era a única maneira ao seu alcance de defenderem a verdade.

[José Saramago, in 'Ensaio Sobre a Lucidez']

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Felicidade

Ilustr.: Georgy Kurasov
Que a felicidade não dependa do tempo, nem da paisagem, nem da sorte, nem do dinheiro.
Que ela possa vir com toda simplicidade, de dentro para fora, de cada um para todos.
Que as pessoas saibam falar, calar, e acima de tudo ouvir.
Que tenham amor ou então sintam falta de não tê-lo.
Que tenham ideais e medo de perdê-los.
Que amem ao próximo e respeitem sua dor.
Para que tenhamos certeza de que:
Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.

[Carlos Drummond de Andrade]

domingo, 23 de novembro de 2014

Tão perto e tão fora

Ilustr.: Pierre Farel

E estou tão perto,
eu posso parecer distante.
Tão completamente mesclado com você,
eu posso parecer separado.
Tão fora na abertura,
eu pareço escondido.
Tão silencioso,
porque estou constantemente falando com você.

[Rumi]

sábado, 22 de novembro de 2014

Prioridades

Ilustr.: Elizeu Menezes
Já parou para pensar que tudo o que faz sem dúvida nenhuma provoca as mais variadas reações nas mais diversas pessoas?
Que quando se trata uma pessoa bem, ela tem um bom motivo para também o tratar bem?
Ora, mas porque cargas d'água, então, tantas pessoas não se falam, não se suportam?

Penso que tudo é contagiante, definitivamente tudo o que você faz, sem mesmo perceber, traz para você enormes consequências.
Quando se está feliz, os outros percebem, e querem estar junto de você, para poderem receber e sentir essa mesma felicidade. Agora quando se está triste, carrancudo, as pessoas ficam com receio de chegar perto, de conversar consigo.

Não perca tempo com inúteis, com coisas, pessoas e planos inúteis.
Você não precisa criar uma cena para que os outros possam observá-lo. Basta agir com simplicidade e honestidade que os amigos que estão perto se tornarão mais próximos e os que não estão tanto, se achegarão com certeza.

Obviamente não venho aqui dizer, que todos os meus amigos têm por mim o mesmo carinho que tenho por eles, certamente isso não acontece.. mas e daí?
Só porque uma pessoa não gosta de você, do jeito que você queria, isso não significa que ela não gosta de você de alguma forma.
Às vezes, somos pretenciosos demais, nos preocupamos tanto com alguém, e esquecemos que temos tantas outras pessoas ao nosso lado, prontas para nos ajudar.

Perdemos muito tempo, com quem nada acrescenta na nossa vida.
E é certo que uma pessoa que nada lhe acrescenta, NADA o pode influenciar também.

Dê prioridade a quem o trata como prioridade, e não como opção como ando vendo por aí ;)
O primeiro e mais importante dos amores, é o amor próprio. Sem ele?
Os outros provavelmente não existiriam...

Fico feliz em saber que em algum dia desses, fui especial para alguém, e não para toda uma população. Basta-me saber que quando precisar de alguém posso contar com uns 4 ou 5 que, independente da minha situação, estarão prontos para me ajudar.

PS: achei uma ótima definição para Amigo.
"Amigo: alguém que sabe de tudo a seu respeito e gosta de si assim mesmo." (Elbert Hubbard)

[Kayque Meneguelli]

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Acredito

Ilustr.: Cécile Vallée




Acredito no seguinte:
o olho das pessoas que gostam de ti
vai sempre brilhar quando alguma coisa boa te acontece.

[Clarice Lispector]

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Felicidades

Ilustr.: Tamaz Gogoladze
Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

[Cecília Meireles]

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cicatrizes

Ilustr.: Jeremy Lipking

'Um homem jamais morre, enquanto a sua existência for recordada'.

Você, sempre você
Um mar eufórico jorrou de repente
e transbordou sobre meu peito solitário
fez do meu leito um lago dormente
de meus pensamentos, sua doce voz ardente.
E cachoeiras rolavam em outrora cachoeiras de paixão,
promessas e saudade
o lago secou
não há mais cachoeira
agora somente seu nome,
na presente realidade,
somente felicidade, sobre o peito que não mais chora.
No peito ficou o pulsar do seu peito
na lembrança seu nome, seu jeito,
nas palavras um pouco de todo seu restante
nos olhos cicatriz de amor, sempre constante.
Cicatriz visível e pura que se infiltrou com candura
cicatriz que não sangra,
doendo cicatriz como eu... lhe querendo.

[Sandra Mara Herzer (1982), in 'A Queda para o Alto', p.198]

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Educação

Ilustr.: Monkey by Ironland


Educai as crianças,
para que não seja necessário
punir os adultos.

[Pitágoras]

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sabedoria

Ilustr.: Denis Nunez Rodriguez
O conhecimento só se transforma em sabedoria através da experiência. Você pode tentar entender o amor. Sua mente pode se agitar na procura do entendimento do amor. Você pode recorrer a muitas teorias. E pode você mesmo escrever muitas teorias sobre o amor.
Mas você só saberá o que é o amor quando estiver amando. Quando se permitir viver a experiência.
Enquanto você está no plano mental, no plano intelectual, tentando entender o amor, você está adquirindo conhecimento, mas em algum momento esse conhecimento precisará ser abandonado porque esse conhecimento são pensamentos. Mesmo que num primeiro momento eles sirvam para te colocar no caminho, chega o momento em que ele precisa ser abandonado para abrir espaço para a experiência. Para que o conhecimento se transforme em sabedoria.

[Sri Prem Baba]

domingo, 16 de novembro de 2014

Universal

Ilustr.: Yuriy Shevchuk







Só seremos universais
se conhecermos e amarmos
a nossa aldeia.

[Leon Tolstoi]

sábado, 15 de novembro de 2014

Casava-me já contigo

Ilustr.: "Owlove" by fdasuarez
Casámos no último dia de Setembro no primeiro Setembro deste século. Estávamos apaixonados, surpreendidos e felizes. Catorze anos depois ainda não acredito na minha sorte.

Quando eu era pequenino e vi um cartaz do filme The Seven Year Itch, de Billy Wilder e de 1955, perguntei à minha mãe o que era. Ela respondeu: "Ao fim de sete anos a novidade do casamento começa a passar".

Ao fim de 14 anos, cada vez que eu olho para a minha mulher, cada dia que acordo ao lado dela, o que mais me comove e impressiona é precisamente a novidade de vê-la, poder amá-la, ter a sorte de ser amado por ela.

Cada coisa que fazemos é ao mesmo tempo antiquíssima – como uma cerimónia que construímos juntos só para nós os dois – e novíssima, pelo desejo e pelo entusiasmo de lá estar, naquele lugar que ela abriu para mim e ela no lugar que só é dela, que sou eu.

O casamento é só uma palavra: é verdade. Mas também pode ser a vontade de casarmos e ficarmos casados, todos os dias, com a mesma pessoa que amamos.

Cada vez nos casamos mais. As diferenças dela vão cabendo cada vez melhor nas minhas. Cada vez somos, a Maria João e eu, mais livres de sermos como somos, cada um de nós, e de sermos como somos, nós os dois.

Ela torna-se mais ela; eu torno-me mais eu, ela e eu com menos medo que o outro fuja por causa disso. Mas com medo à mesma. E ganância de viver e curiosidade em saber como é que o décimo quinto ano vai ser melhor do que este.

Mas vai ser.

[Miguel Esteves Cardoso, in 'Público', 30/09/2014]

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Sofrimento

Ilustr.: Margarita Sikorskaia







O sofrimento é uma nudez
– não se mostra aos públicos.

[Mia Couto]

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Trinta mil dias

Ilustr.: Jeremy Lipking
Fiz ontem as contas e foram mais de trinta mil os dias em que adormecemos e acordámos juntos, na cama onde agora te escrevo e de onde espero sair para ir de novo até ti.
Trinta mil dias a olhar-te dormir, a saber o frio ou o calor do teu corpo, a perceber o que te doía por dentro, a amar cada ruga a mais que ia aparecendo.
Trinta mil dias de eu e tu, desta casa que um dia dissemos que seria a nossa (que será de uma casa que nos conhece tão bem quando já aqui não estivermos para a ocupar?), das dificuldades e dos anseios, dos nossos meninos a correr pelo corredor, da saudade de nos sabermos sempre a caminho de sermos só nós.
Trinta mil dias em que tudo mudou e nada nos mudou, das tuas lágrimas tão bonitas e tão tristes, das poucas vezes em que a vida nos obrigou a separar (e bastava uma tarde longe de ti para nem a casa nem a vida continuarem iguais).
Trinta mil dias, minha velha resmungona e adorável. Eu e tu e o mundo, e todos os velhos que um dia conhecemos já se foram com a velhice. Nós ainda aqui estamos, trinta mil dias depois, juntos como sempre. Juntos para sempre.
Trinta mil dias em que desaprendi tanta coisa, meu amor. Menos a amar-te.

[Pedro Chagas Freitas, in 'Prometo Falhar']

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Pacto

Ilustr.: Katie m. Berggren




Nascemos,
e nesse momento é como se tivéssemos firmado um pacto para toda a vida,
mas pode chegar o dia em que nos perguntemos:
- Quem assinou isto por mim?

[José Saramago, in 'Ensaio Sobre a Lucidez']

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Sofrimento

Ilustr.: Matthew Allton


Sofrimento humano tem sido causado porque muitos de nós não conseguem entender que as palavras são apenas instrumentos para nosso uso e que a mera presença no dicionário de uma palavra como ‘vivo’ não significa que ela tenha, necessariamente, que se referir a alguma coisa definida no mundo real.

[Richard Dawkins, in 'O Gene Egoísta']

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Imaginação

Ilustr.: Ronald Companoca


Quando você olha pra algo, automaticamente você transforma esta imagem em palavras, em pensamentos. Entre você e aquilo que você está vendo tem uma tela de julgamentos, conceitos, rótulos. Isso impede que tenha uma percepção objetiva do que está vendo. Você olha com lentes coloridas. É isso que eu chamo de imaginação. Estes óculos coloridos precisam ser retirados para que você tenha acesso à realidade espiritual que é aquilo que é, sem nenhuma interpretação da sua mente carregada de conhecimento emprestado.

[Sri Prem Baba]

domingo, 9 de novembro de 2014

"Enlou-creça"


Ilustr.: "tu mirada en mi"
Quem não tem namorado é alguém que tirou férias de si mesmo.

Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, e dois amantes, mesmo assim não pode ter namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou largatixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos de amor com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas;
de carinho escondido na hora em que passa o filme;
de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar;
de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada;
de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metro, autocarro, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele,
quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado.
Não tem namorado quem ama sem gostar;
quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.

Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilo e medo,
ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança.

De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.

Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada.
Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases subtis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida passar e de repente parecer que tudo faz sentido:

"Enlou-creça"

[Carlos Drummond de Andrade]

sábado, 8 de novembro de 2014

Agnóstico

Ilustr.: Georgy Kurasov
Sempre entendi que um agnóstico é um ateu sem a coragem de expressar as suas convicções.
Da mesma forma o senhor poderia dizer que um agnóstico é uma pessoa profundamente religiosa que possui um conhecimento ao menos rudimentar da falibilidade humana.
Quando digo que sou agnóstica, quero apenas dizer que não disponho de provas. Não existem provas contundentes da existência de Deus... pelo menos da sua espécie de deus... como também não existem provas convincentes de sua inexistência.
Como mais da metade da população da Terra não é formada de judeus, cristãos ou muçulmanos, eu diria que não há argumentos conclusivos para a existência do deus em que o senhor acredita.
Se não fosse assim, todos os habitantes da Terra teriam sido convertidos.

[Carl Sagan, in 'Contato']

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Correntes

Ilustr.: Henry Carr





Quebrem as correntes dos seus pensamentos
e quebrarão as correntes do corpo.

[Richard Bach, in 'Fernão Capelo Gaivota']

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Testemunho

Ilustr.: Chanelle Kotze





Só confie numa testemunha quando ela fala de questões em que não se acham envolvidos nem o seu interesse próprio, nem as suas paixões, nem os seus preconceitos, nem o amor pelo maravilhoso.

[Carl Sagan, in 'O Mundo Assombrado pelos Demónios']

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Espiritualidade

Ilustr.: Rachel Clearfield


A mente humana, muito comumente utiliza um mecanismo de imaginar histórias a respeito daquilo que ela vê. Este processo de imaginação é o mesmo que sonhar acordado.
Então é comum que se imagine algo a respeito daquilo que você acredita que é.
E imagine também aquilo que você veio fazer aqui. E esta imaginação inevitavelmente gera sofrimento.
Portanto, espiritualidade é o acesso à realidade, ou seja, aquilo que está além da imaginação.
Que é o que te liberta do sofrimento.

[Sri Prem Baba]

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A vida

Ilustr.: Sunflower Butterfly Wallpaper

... o que me agradaria dizer-lhe é que você um dia terá o que agora procura tão confusamente. É uma espécie de calma que vem do conhecimento de si própria e dos outros. Mas não se pode apressar a vinda desse estado.
Há coisas que só se aprende quando ninguém as ensina. E com a vida é assim.
Há mais beleza em descobri-la sozinha, apesar do sofrimento.

[Clarice Lispector, in 'Gertrudes Pede um Conselho']

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Gosto de ti, e então?

Ilustr.: Chanelle Kotze
Gosto de gostar de ti.
Adoro amar-te tanto.
Amo adorar-te assim.

Quando me dou, gosto de me dar por inteiro.
Quando gosto não me sei dar só um pouco. Quando gosto não consigo deixar um pouco de mim comigo. Não gosto com cautelas. Não amo com precaução.

E não adoro só uma metade tua. Não gosto só de uma seleção de primeira escolha de ti. Não amo só as qualidades. Não convivo só com os lados felizes. Não gosto só do bonito de ti.

E quando me gostas como eu te gosto; quando me entendes como eu te entendo; quando me olhas como eu te olho; quando me sentes como te sinto: gosto de nós e amo gostar de nós.

Tanto. E sempre.

[Rita Leston]

domingo, 2 de novembro de 2014

Deserto

Ilustr.: Piero Manrique

Deserto é tudo quanto esteja ausente dos homens,
ainda que não devamos esquecer que
não é raro encontrar desertos e securas mortais no meio de multidões.

[José Saramago, in 'O Evangelho Segundo Jesus Cristo']

sábado, 1 de novembro de 2014

Anjos, santos e demónios

Ilustr.: Cyra R. Cancel
... as religiões realmente monoteístas só existiram nos livros.
O cristianismo, por exemplo, logo anexou legiões de anjos, santos e demónios, que correspondem exatamente às divindades secundárias do mundo antigo e são venerados ou temidos como aquelas.
Essa multiplicidade de deuses secundários nas crenças monoteístas e a divisão rápida destas últimas em seitas mostram claramente que o monoteísmo é um conceito teórico, que não satisfaz as nossas necessidades afetivas e místicas.

[Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças']