domingo, 30 de junho de 2013

Sob o Trópico de Câncer (IV)

Ilustr.: Dipinto di Matariil
—  Minha senhora, lamento muito, mas é meu dever informá-la de que seu marido é portador de um tumor maligno no fígado...
—  Meu caro senhor, tenho que comunicar-lhe que sua esposa terá que operar-se de uma neoplastia do útero...
—  É, infelizmente a biopsia revela um osteo-sarcoma no menino.  É impossível prever...
—  É a dura realidade, meu amigo.  Sua mãe...
—  Seu pai ainda é um homem forte, vai aguentar bem a intervenção...
—  Sua avó está muito velhinha, mas nós faremos o possível...
—  Veja você...  E é cancerologista (oncologista)...
—  Coitado, não tinha onde cair morto.  E logo câncer (cancro)...
—  Há muito operário que morre de câncer (cancro).  Mas câncer (cancro)de pobre não tem vez...
—  Era nosso melhor piloto. Mas o câncer (cancro) de intestino não perdoa...
—  Qual o que, meu caro, não se assuste prematuramente. Câncer (cancro) não dá em deputado...
—  Parece que o General está com câncer (cancro)...
—  Tão boa atriz... E depois, tão linda...
—  Que coisa! O Governador parecia tão bem disposto...
—  Se for câncer (cancro), o Presidente não termina o mandato...
—  Não me diga? O Rei...
—  Mentira...  O Papa?...
—  E atenção para a última notícia. Estamos ligados com a Interplat 666...
   — DEUS ESTÁ COM CÂNCER.

[Vinicius de Moraes]


sábado, 29 de junho de 2013

Sob o Trópico de Câncer (III)

Ilustr.: Daryl Mandryk
Há 1 célula em mim que quer respirar e não pode
Há 2 células em mim que querem respirar e não podem
Há 4 células em mim que querem respirar e não podem
Há 16 células em mim que querem respirar e não podem
Há 256 células em mim que quer respirar e não podem
Há 65.536 células em mim que querem respirar e não podem
Há 4.294.967.296 células em mim que querem respirar e não podem
Há 18.446.744.073.709.551.616 células em mim que querem respirar e não podem
Há 340.282.366.920.938.463.374.607.431.768.211.456 células em mim que querem respirar e não podem.

[Vinicius de Moraes]

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Sob o Trópico de Câncer (II)

Ilustr.: Salvador Dali
Cordis sinistra
— Ora pro nobis

Tabis dorsalis
— Ora pro nobis

Marasmus phthisis
— Ora pro nobis

Delirium tremens
— Ora pro nobis

Fluxus cruentum
— Ora pro nobis

Apoplexia parva
— Ora pro nobis

Lues venérea
— Ora pro nobis

Entesia tetanus
— Ora pro nobis

Saltus viti
— Ora pro nobis

Astralis sideratus
— Ora pro nobis

Morbus attonitus
— Ora pro nobis

Mama universalis
— Ora pro nobis

Cholera morbus
— Ora pro nobis

Vomitus cruentus
— Ora pro nobis

Empresma carditis
— Ora pro nobis

Fellis suffusio
— Ora pro nobis

Phallorrhoea virulenta
— Ora pro nobis

Gutta serena
— Ora pro nobis

Angina canina
— Ora pro nobis

Lepra leontina
— Ora pro nobis

Lupus vorax
— Ora pro nobis

Tônus trismus
— Ora pro nobis

Angina pectoria
— Ora pro nobis

Et libera nobis omnia Câncer
— Amém.

[Vinicius de Moraes]

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Sob o Trópico de Câncer ( I )

Ilustr.: Eye Patch Tazor

Sai, Cancro (Câncer)!
Desaparece, parte, sai do mundo
Volta à galáxia onde fermentam
Os íncubos da vida,
De que és a forma inversa.
Vai, foge do mundo
Monstruosa tarântula, hediondo
Caranguejo incolor,
Fétida anémona carnívora!

Sai, Cancro (Câncer)!
Furbo anão de unhas sujas e roídas
Monstrengo sub-reptício, glabro homúnculo
Que empestas as brancas madrugadas
Com teu suave mau cheiro de necrose
Enquanto largas sob as portas
Teus sebentos volantes genocidas
Sai, get out, va-t-en, henaus
Tu e tua capa de matéria plástica
Tu e tuas galochas
Tu e tua gravata carcomida
E torna, abjeto, ao Trópico
Cujo nome roubaste.
Deixa os homens em sossego
Odioso mascate; fecha o zíper
De tua gorda pasta que amontoa
Caranguejos, baratas, sapos, lesmas
Movendo-se em seu visgo, em meio a amostras
De óleo, graxas, corantes, germicidas,

Sai, Cancro (Câncer)!
Fecha a tenaz e diz adeus à Terra
Em saudação fascista; galga, aranha,
Contra o teu próprio fio
E vai morrer de tua própria síntese
Na poeira atómica que se acumula na cúpula do mundo.
Adeus
Grumo louco, multiplicador incalculável, tu
De quem nenhum Cérebro Eletrónico poderá jamais seguir a matemática.
Parte, poneta ahuera, andate via 
Glauco espectro, gosmento camelô
Da morte anterior à eternidade.
Não és mais forte do que o homem — rua!
Grasso e gomalinado camelô, que prescreves
A dívida humana sem aviso prévio, ignóbil
Meirinho, Cancro (Câncer), vil tristeza...
Amada, fecha a porta, corta os fios,
Não preste nunca ouvidos ao que o mercador contar!

[Vinicius de Moraes]

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Poema da Noite

Ilustr.: Salvador Dali
Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas
quando nunca pensei me decepcionar,
mas também decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já me ri quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!

Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" pra ser insignificante.

[Charles Chaplin]

terça-feira, 25 de junho de 2013

Equilíbrio

Ilustr.: Virginia Palomeque

No mistério do sem-fim equilibra-se um planeta.
E no planeta um jardim,
e no jardim um canteiro,
no canteiro uma violeta,
e sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.

[Cecília Meireles]

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Sintonia

Ilustr.: Virginia Palomeque
Existem pessoas que têm um dom especial,
o dom de fazer carinho na nossa alma,
e mesmo distantes
conseguimos sentir esse carinho que enche o coração de paz,
que vem dessa pessoa como uma brisa de amor silenciosa.
A melhor maneira de amar alguém deve ser assim,
mesmo de longe, você sente a alma mandando uma mensagem.
É uma sintonia,
é como se duas almas estivessem dentro do mesmo coração.

[Rhenan Carvalho]

domingo, 23 de junho de 2013

Pele

Ilustr.: Alberto Pancorbo

Não há memória mais terrível do que a da pele.
A cabeça pensa que esquece,
o coração sente que passou,
mas a pele arde,
invulnerável ao tempo.

[Inês Pedrosa]

sábado, 22 de junho de 2013

Valeu!

Foto: Craig Tracy

Fui por aí.
Colhendo um instante bonito aqui, uma hora linda ali.
No fim, um dia que me responda:
valeu!

[Dan Cezar]

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Espaços

Ilustr.: Igor Shin Moromisato






Tudo está escrito nos espaços brancos
que ficam entre uma palavra e a seguinte.

[Inês Pedrosa]

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Matemática




No amor,
um mais um é igual a um.

[J.P. Sartre]

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Paz e Guerra

Ilustr.: Pawel Kuczynski

Nunca imaginei que o amor ao próximo e a agressividade morassem na mesma casa.
Nunca pensei que a paz e a guerra habitavam no mesmo ser humano.

[Augusto Cury]


terça-feira, 18 de junho de 2013

Juntos

Ilustr. in 'Tu mirada en mi'

Eu não quero te mudar, apenas quero segurar a tua mão e te ajudar a ir mais longe.
E se nós errarmos o caminho, tudo bem. Nem sempre a vida é feita de passos certos.
Há muito tropeço por vir, nós sabemos, mas o que importa é estarmos juntos.
O que importa é querer permanecer. Não apenas ser, mas estar. Estar com força, com gana, com crença no amanhã.

[Clarissa Corrêa]

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Inteiramente teu

Ilustr.: Margarita Sikorskaia

Amar você é amar aquilo que, de outra forma, jamais faria sentido:
é abraçar teu passado, teus traumas, teus vazios, tuas confusões e angústias existenciais como quem abraça a um amigo.
É agradecer profundamente, ao acordar, por esta pessoa inteira, que jamais será uma metade e que me escolheu para a soma e, que com todas as alternativas que teve, preferiu seguir comigo.

[Marla de Queiroz]

domingo, 16 de junho de 2013

Paciência

Ilustr.: Josée Masse
Procuro, da melhor maneira possível, cuidar do meu jardim, razão da minha existência.
Sem ele, coração, não existo; sem elas, as pessoas, não faço sentido.
Tento ser bom jardineiro, mas sei que por excesso de zelo, ou falta dele, de vez em quando deixo a desejar.
Peço, então, às minhas preciosas flores, que tenham paciência.
Sei o quanto são delicadas e minhas mãos tantas vezes pesadas.

[Poupée Amélie]

sábado, 15 de junho de 2013

Fotografia

Ilustr.: Claire Keane




A melhor coisa sobre uma fotografia,
é que ela não muda mesmo quando as pessoas mudam.

[Andy Warhol]

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Pesadelo

Ilustr.: Tamara De Lempicka
Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingénua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás.

[Cazuza / Frejat] 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Amo-te mas...

Ilustr. by ElephantWendigo
Se uma pessoa diz a outra que a ama,
a própria linguagem supõe a expressão "para sempre".
Não tem sentido dizer: - Amo-te, mas provavelmente só durará uns meses, ou uns anos, desde que continues a ser simpática e agradável, ou eu não encontre outra melhor, ou não fiques feia com a idade.
Um "amo-te" que implica "só por algum tempo" não é um amor verdadeiro.
É antes um "gosto de ti, agradas-me, sinto-me bem contigo, mas de modo algum estou disposto a entregar-me inteiramente, nem a entregar-te a minha vida".

[Mikel Santamaría Garai]

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Diz Toda a Verdade

Ilustr.: Cynthia Sheppard

Diz toda a Verdade mas di-la tendenciosamente
O êxito está no Circuito
É demasiado brilhante para o nosso enfermo Prazer
A esplêndida surpresa da Verdade

Como o Relâmpago se torna mais fácil para as Crianças
Com uma amável explicação
A Verdade deve ofuscar gradualmente
Ou cada homem ficará cego

[Emily Dickinson, in "Poemas e Cartas"]

terça-feira, 11 de junho de 2013

Dom

Ilustr.: Virginia Palomeque
Somos seres preocupados em agir, fazer, resolver, providenciar. Estamos sempre a tentar planear uma coisa, concluir outra, descobrir uma terceira. Não há nada de errado nisto – afinal de contas, é assim que construímos e modificamos o mundo.
Mas faz parte da experiência da vida o ato da adoração. Parar de vez em quando, sair de si mesmo, permanecer em silêncio diante do Universo. Ajoelhar-se com o corpo e com a alma. Sem pedir, sem pensar, sem mesmo agradecer por nada. Apenas viver o amor calado que nos envolve.
Nestes momentos, algumas lágrimas inesperadas – que não são nem de alegria, nem de tristeza – podem cair.
Não te surpreendas. Isto é um dom.
Estas lágrimas estão a lavar a tua alma.

[Paulo Coelho]

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Decisão


Sempre que houver alternativas, tenha cuidado.
Não opte pelo conveniente, pelo confortável, pelo respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo honroso.
Opte pelo que faz o seu coração vibrar.
Opte pelo que gostaria de fazer, apesar de todas as consequências.

[Osho]

domingo, 9 de junho de 2013

Amadurecer

Ilustr.: Josée Masse



Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável,
mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar a nossa existência.

[Martha Medeiros]

sábado, 8 de junho de 2013

Prelúdio



A razão porque dói tanto separar-mo-nos é porque as nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham estado e sempre o fiquem. Talvez tenhamos vivido milhares de vidas antes desta, e em cada uma nos tenhamos reencontrado. E talvez que em cada uma tenhamos sido separados pelos mesmos motivos. Isto significa que esta despedida é, ao mesmo tempo, um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio ao que virá.

[Nicholas Sparks, in 'Diário de uma paixão']

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Toque de mãos

Ilustr.: Waldemar Marszalek

Cartas de amor são escritas
não para dar notícias,
não para contar nada,
mas para que mãos separadas se toquem
ao tocarem a mesma folha de papel.

[Rubem Alves]

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sacudidela

Ilustr.: Diego Rivera


Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.

[Fernando Pessoa]

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Quando me amei de verdade...

Ilustr.: Sampo Kaikkonen

Quando me amei de verdade,
compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.

Quando me amei de verdade,
pude perceber que a minha angústia, o meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou a ir contra as minhas verdades.
Hoje sei que isso é... Autenticidade.

Quando me amei de verdade,
parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo a isso... Amadurecimento.

Quando me amei de verdade,
comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.

Quando me amei de verdade
comecei a livrar-me de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início a minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.

Quando me amei de verdade,
deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalómanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.

Quando me amei de verdade,
desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muitas menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.

Quando me amei de verdade,
desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, mantenho-me no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez.
Isso é... Plenitude.

Quando me amei de verdade,
percebi que a minha mente me pode atormentar e decepcionar. Mas quando a coloco ao serviço do meu coração, ela torna-se uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é... Saber viver!!!

[Charles Chaplin]

terça-feira, 4 de junho de 2013

Não sei quantas almas tenho...

Ilustr.: Sonja Wimmer

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei. 
Continuamente me estranho. 
Nunca me vi nem acabei. 
De tanto ser, só tenho alma. 
Quem tem alma não tem calma. 
Quem vê é só o que vê, 
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo, 
Torno-me eles e não eu. 
Cada meu sonho ou desejo 
É do que nasce e não meu. 
Sou minha própria paisagem; 
Assisto à minha passagem, 
Diverso, móbil e só, 
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo 
Como páginas, meu ser. 
O que segue não prevendo, 
O que passou a esquecer. 
Noto à margem do que li 
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.

[Fernando Pessoa]

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Num único beijo...

<Autor desconhecido>


Num único beijo
saberás tudo aquilo que tenho calado.

[Pablo Neruda]

domingo, 2 de junho de 2013

Por dentro

Ilustr.: Corinne Reignier

Eu não estou triste.
Só estou fazendo silêncios.
Só estou me recolhendo.
Só estou amanhecendo,
por dentro.

[Priscila Rôde]

sábado, 1 de junho de 2013

Pequenina

Autor desconhecido
Eu bem sei que te chamam pequenina
E ténue como o véu solto na dança,
Que és no juízo apenas a criança,
Pouco mais, nos vestidos, que a menina...

Que és o regato de água mansa e fina,
A folhinha do til que se balança,
O peito que em correndo logo cansa,
A fronte que ao sofrer logo se inclina...

Mas, filha, lá nos montes onde andei,
Tanto me enchi de angústia e de receio
Ouvindo do infinito os fundos ecos,

Que não quero imperar nem já ser rei
Senão tendo meus reinos em teu seio
E súbditos, criança, em teus bonecos!

Antero de Quental, in "Sonetos"