sábado, 31 de agosto de 2013

Vida

Ilustr.: Yanni Stratoudaki


A vida é a perda lenta de tudo o que amamos.

[Maurice Maeterlinck]

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Homem

Ilustr.: Lucelle Raad

A vida do homem divide-se em cinco períodos:
infância, adolescência, mocidade, virilidade e velhice.
No primeiro período o homem ama a mulher como mãe;
no segundo, como irmã;
no terceiro, como amante;
no quarto, como esposa;
no quinto, como filha.

[Pierre-Joseph Proudhon]

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Afinal

Ilustr.: Sylvie Bourbonnière

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.

Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.

Sursum corda! Erguei as almas! Toda a Matéria é Espírito,

Porque Matéria e Espírito são apenas nomes confusos
Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho
E funde em Noite e Mistério o Universo Excessivo!
Sursum corda! Na noite acordo, o silêncio é grande,
As coisas, de braços cruzados sobre o peito, reparam

Com uma tristeza nobre para os meus olhos abertos
Que as vê como vagos vultos noturnos na noite negra.
Sursum corda!
Acordo na noite e sinto-me diverso.
Todo o Mundo com a sua forma visível do costume
Jaz no fundo dum poço e faz um ruído confuso,

Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça.

Sursum corda! ó Terra, jardim suspenso, berço
Que embala a Alma dispersa da humanidade sucessiva!
Mãe verde e florida todos os anos recente,
Todos os anos vernal, estival, outonal, hiemal,
Todos os anos celebrando às mancheias as festas de Adônis
Num rito anterior a todas as significações,
Num grande culto em tumulto pelas montanhas e os vales!
Grande coração pulsando no peito nu dos vulcões,
Grande voz acordando em cataratas e mares,
Grande bacante ébria do Movimento e da Mudança,
Em cio de vegetação e florescência rompendo
Teu próprio corpo de terra e rochas, teu corpo submisso
A tua própria vontade transtornadora e eterna!
Mãe carinhosa e unânime dos ventos, dos mares, dos prados,
Vertiginosa mãe dos vendavais e ciclones,
Mãe caprichosa que faz vegetar e secar,
Que perturba as próprias estações e confunde
Num beijo imaterial os sóis e as chuvas e os ventos!

Sursum corda!
Reparo para ti e todo eu sou um hino!
Tudo em mim como um satélite da tua dinâmica intima
Volteia serpenteando, ficando como um anel
Nevoento, de sensações reminescidas e vagas,
Em torno ao teu vulto interno, túrgido e fervoroso.
Ocupa de toda a tua força e de todo o teu poder quente
Meu coração a ti aberto!
Como uma espada traspassando meu ser erguido e extático,
Intersecciona com meu sangue, com a minha pele e os meus nervos,
Teu movimento contínuo, contíguo a ti própria sempre,

Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.

Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.
Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,
No vasto chão supremo que não está em cima nem embaixo
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais.

Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima,
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo
De chamas explosivas buscando Deus e queimando
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,
A minha inteligência limitadora e gelada.

Sou uma grande máquina movida por grandes correias
De que só vejo a parte que pega nos meus tambores,
O resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis,
E nunca parece chegar ao tambor donde parte ...

Meu corpo é um centro dum volante estupendo e infinito
Em marcha sempre vertiginosamente em torno de si,
Cruzando-se em todas as direções com outros volantes,
Que se entrepenetram e misturam, porque isto não é no espaço
Mas não sei onde espacial de uma outra maneira-Deus.

Dentro de mim estão presos e atados ao chao
Todos os movimentos que compõem o universo,
A fúria minuciosa e dos átomos,
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,
A espuma furiosa de todos os rios, que se precipitam,

A chuva com pedras atiradas de catapultas
De enormes exércitos de anões escondidos no céu.
Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!


[Álvaro de Campos]

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Tomara

Ilustr: Salvador Dali
Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz

E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais

[Vinicius de Moraes]

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Dorme, dorme, dorme

Ilustr.: Denis Nunez Rodriguez
Enquanto Eu Velo
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.

A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.
Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir...

Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.

[Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"]

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Duas Almas


Duas almas são predestinadas quanto têm uma missão a cumprir juntas, e assim, por ter sido um encontro marcado lá do outro lado, onde pactuaram voltar, para se encontrarem e realizar determinada missão, sendo assim, quando as almas se encontram, tudo pode acontecer, podendo haver a explosão do amor não vivido em outras vidas. Este amor chega sem ter dia marcado ou momento marcado para acontecer. Simplesmente chega, e se instala, criando uma verdadeira orgia de sentimentos alegres, que modificam todos os propósitos e conceitos até então firmados.

O encontro de duas almas tem como foco principal, não a aparência física, mas a afinidade entre elas existente, e o que o destino a elas destinou, como o porquê e o quando tudo deve acontecer. Existem momentos de tristeza, causada por uma dúvida que machuca, que gostaria de saber o porquê de não se terem encontrado antes, ainda mais quando o momento desse encontro acontece quando não é mais possível extravasar toda a plenitude do amor que trazem, quando não é mais possível viver a alegria de amar e querer compartilhar a vida com o outro.

Enfim, como essas almas se sentem sem a possibilidade de realizar este amor em total plenitude, o que causa um inexplicável sentimento de saudade de algo que não foi vivido. Uma saudade doída de algo vivido em outras vidas, saudade daquilo que poderia ter sido, mas que por alguma razão não o foi. Reconhecem, porém, que não haverá retorno para suas pretensões, e mesmo estando distantes, entendem a alegria, a tristeza, o querer um do outro.

Estas almas falam além das palavras, e aliás, delas não precisam, pois se comunicam, se encontram, se amam pelo éter, pelo espaço sideral. São encontros etéricos. Se o reencontro ocorrer no tempo certo, estas almas afins se entrelaçam e buscam a forma de juntas ficarem, num processo contínuo de reaproximação até a consumação do resgate daquilo que vieram cumprir.

Se diferente for, se o reencontro ocorre num espaço de tempo diferente do que suas realidades possam permitir, ainda assim estas almas ficam marcadas, e nunca conseguirão se separar, mesmo que os corpos se separem, elas continuarão a se sentir, pois almas que assim se encontram não mais se sentirão sozinhas, pois reconhecerão a necessidade que têm uma da outra para toda a eternidade. São almas que atravessam os tempos, as muitas passagens, buscando o resgate final de seu amor, até que em determinada passagem conseguem cumprir o resgate, tendo então seu descanso final, quando conseguem ter um lindo dia.

[Marcial Salaverry]

domingo, 25 de agosto de 2013

Arriscas?

Ilustr.: Franciska Izabel


Se eu te mostrar a minha luz interior
podes abdicar de ser apenas uma fantasia
e existir tangente ao meu corpo,
pergunto.

[Valter Hugo Mãe]

sábado, 24 de agosto de 2013

Dor passada

Ilust.: Mihai Criste



Lamentar uma dor passada, no presente,
é criar outra dor e sofrer novamente.

[William Shakespeare]


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Recomeçar

Ilustr.: Klaas Verplancke
Não importa onde você parou…
Em que momento da vida você cansou…
O que importa é que sempre é possível recomeçar.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo…
É renovar as esperanças na vida e, o mais importante…
Acreditar em você de novo.
Sofreu muito neste período? Foi aprendizado…
Chorou muito? Foi limpeza da alma…
Ficou com raiva das pessoas?
Foi para perdoá-las um dia…
Sentiu-se só diversas vezes?
É porque fechaste a porta até para os anjos…
Acreditou que tudo estava perdido?
Era o início da tua melhora…
Onde você quer chegar? Ir alto?
Sonhe alto… Queira o melhor do melhor…
Se pensarmos pequeno… Coisas pequenas teremos…
Mas se desejarmos fortemente o melhor e, principalmente, lutarmos pelo melhor…
O melhor vai se instalar em nossa vida.
Porque sou do tamanho daquilo que vejo,
e não do tamanho da minha altura.

[Carlos Drummond de Andrade]

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Pessoas

Ilust.: Victor Nizovtsev


Na vida irás encontrar três tipos de pessoas:
Aquelas que irão mudar tua vida,
Aquelas que irão prejudicar tua vida,
Aquelas que serão tua vida.

[Provérbio africano]


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Ciúme

Ilustr: Twin Flame Art

O ciúme, ou seja, não conseguir dar ao amado alguma coisa que alguém outro pode dar-lhe
é tanto mais provável quanto maior for a distância entre as duas pessoas,
quanto mais seus mundos e seus costumes são diferentes.

[Francesco Alberoni]

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Emoções

<autor não identificado>



Quando nascem as emoções,
morrem as palavras.

[Antonio Curnetta]

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Nada sabemos da alma

Ilustr.: Brandon Heffron
É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.

[Fernando Pessoa]

domingo, 18 de agosto de 2013

Não Basta

Ilustr.: Salvador Dali

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

[Alberto Caeiro]



sábado, 17 de agosto de 2013

Sacode as nuvens

Ilustr.: Agostino Arrivabene


Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
Sacode as aves que te levam o olhar.
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.
Porque eu cheguei e é tempo de me veres,
Mesmo que os meus gestos te trespassem
De solidão e tu caias em poeira,
Mesmo que a minha voz queime o ar que respiras
E os teus olhos nunca mais possam olhar.

[Sophia de Mello Breyner Andresen, de "Coral"]

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Saudade (3)

Ilustr.: Salvador Dali

Quando nos iremos, ah quando iremos de aqui?
Quando, do meio destes amigos que não conheço,
Do meio destas maneiras de compreender que não compreendo,
Do meio destas vontades involuntariamente
Tão contrárias à minha, tão contrárias a mim?!

Ah, navio que partes, que tens por fim partir,
Navio com velas, navio com máquina, navio com remos,
Navio com qualquer coisa com que nos afastemos,
Navio de qualquer modo deixando atrás esta costa,
Esta, a sempre esta costa, esta sempre esta gente,
Só válida à emoção através da saudade futura,
Da saudade, esquecimento que se lembra,
Da saudade, engano que se deslembra da realidade,
Da saudade, remota sensação do incerto
Vago misterioso antepassado que fomos,
Renovação da vida antenatal, [...]
Absurdamente surgindo, estática e constelada
Do vácuo dinâmico do mundo.

Que eu sou daqueles que sofrem sem sofrimento,
Que têm realidade na alma,
Que não são mitos, são a realidade
Que não têm alegria do corpo ou da alma, daqueles
Que vivem pedindo esmola com a vontade de perdê-la...
Eu quero partir, como quem exemplarmente parte.
Para que hei-de estar onde estou se é só onde estou?
Para que hei-de ser sempre eu se eu não posso ser quem sou,
Mas isto tudo é como uma realidade longínqua
Daqueles que não partiram ou daqueles
Cujo lar é nenhum e de memória
Quando, navio [...], deixaremos o lar que não temos?

Navio, navio, vem!
Ó lugre, corveta, barca, vapor de carga, paquete,
Navio carvoeiro, veleiro de mastro, carregado de madeira,
Navio de passageiros de todas as nações diversas,
Navio todos os navios,
Navio possibilidade de ir em todos navios
Indefinidamente, incoerentemente,
À busca de nada, À busca de não buscar,
À busca só de partir.
À busca só de não ser
À primeira morte possível ainda em vida —
O afastamento, a distância, a separar-nos de nós.

Porque é sempre de nós que nos separamos quando deixamos alguém,
É sempre de nós que partimos quando deixamos a costa,
A casa, o campo, a margem, a gare, ou o cais.
Tudo que vimos é nós, vivemos só nós o mundo.
Não temos senão nós dentro e fora de nós,
Não temos nada, não temos nada, não temos nada...
Só a sombra fugaz no chão da caverna no depósito de almas,
Só a brisa breve feita pela passagem da consciência,
Só a gota de água na folha seca, inútil orvalho,
Só a roda multicolor girando branca aos olhos
Do fantasma inteiro que somos,
Lágrima das pálpebras descidas
Do olhar velado divino.

Navio quem quer que seja, não quero ser eu! Afasta-me
A remo ou vela ou máquina, afasta-me de mim!
Vá. Veja eu o abismo abrir-se entre mim e a costa,
O rio entre mim e a margem.
O mar entre mim e o cais,
A morte, a morte, a morte, entre mim e a vida!

[Álvaro de Campos, 28-10-1924]

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Eu chamei-te para ser

Ilustr.: Jane Aukshunas

Eu chamei-te para ser a torre
Que viste um dia branca ao pé do mar.
Chamei-te para me perder nos teus caminhos.
Chamei-te para sonhar o que sonhaste.
Chamei-te para não ser eu:
Pedi-te que apagasses
A torre que eu fui, a minha vida, os sonhos que sonhei.

[Sophia de Mello Breyner Andresen, em 'Coral']

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Coragem

Ilustr.: Adrian Waggoner

A palavra coragem é muito interessante.
Ela vem da raiz latina cor, que significa "coração".
Portanto, ser corajoso significa viver com o coração.
E os fracos, somente os fracos, vivem com a cabeça; receosos, eles criam em torno deles uma segurança baseada na lógica.
Com medo, fecham todas as janelas e portas – com teologia, conceitos, palavras, teorias – e do lado de dentro dessas portas e janelas, eles se escondem.

O caminho do coração é o caminho da coragem.
É viver na insegurança,
é viver no amor e confiar, é enfrentar o desconhecido
É deixar o passado para trás e deixar o futuro ser.
Coragem é seguir trilhas perigosas.
A vida é perigosa.
E só os covardes podem evitar o perigo – mas aí já estão mortos.
A pessoa que está viva, realmente viva, sempre enfrentará o desconhecido.
O perigo está presente, mas ela assumirá o risco.
O coração está sempre pronto para enfrentar riscos; o coração é um jogador.
A cabeça é um homem de negócios.
Ela sempre calcula – ela é astuta.
O coração nunca calcula nada.

Aposte todas as suas fichas. Seja um apostador!
Arrisque tudo, pois o momento seguinte não é uma certeza.
Então, por que se importar com ele? Por que se preocupar?
Viva perigosamente, viva com prazer.
Viva sem medo, viva sem culpa.
Viva sem nenhum medo do inferno ou sem ansiar o céu.
Simplesmente viva.
[Osho]

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Realidade

Ilustr.: Beautiful Pegasus on Clouds, de tamarock26
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

[Ricardo Reis]

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Temo

Ilustr.: David Gray



Se meus demónios me abandonarem,
temo que os meus anjos desapareçam também.

[Rainer Rilke]

domingo, 11 de agosto de 2013

As tuas mãos

Ilustr.: Julia C.R. Gray


Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, e dos choupos,
carregados de sombra e rasos de água.

Só elas são
estrelas penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos.

[Eugénio de Andrade]

sábado, 10 de agosto de 2013

Eu amo tudo o que foi

Ilustr. in "ironland on deviantART"

Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errónea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

[Fernando Pessoa]

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

As pessoas não se precisam

"La femme papillon"
<autor não identificado>
Quando depositamos muita confiança ou expectativas numa pessoa, o risco de se decepcionar é grande.

As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as delas.

Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos consciencializar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.

As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objectivos comuns, alegrias e vida.

Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida.

Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você. O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.

No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

[Mario Quintana]

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Eu gosto do meu corpo

Ilustr.: Lauri Blank
Eu gosto do meu corpo quando está com o teu
corpo. É uma coisa tão inteiramente nova.
Melhores músculos e mais nervos.
Gosto do teu corpo. Gosto do que ele faz,
gosto dos seus modos. Gosto de sentir a espinha
do teu corpo e dos seus ossos, e o tremor
- firmeza - maciez e o qual beijarei
uma e outra e outra vez,
gosto de beijar-te aqui e ali,
gosto de acariciar, vagarosamente, a penugem
da tua pele elétrica, e aquilo que acontece
ao romper da carne... E os olhos grandes migalhas de amor,
e talvez eu goste do frémito
por baixo de mim de ti tão inteiramente nova.

[E.E.Cummings]


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I like my body when it is with your
body. It is so quite new a thing.
Muscles better and nerves more.
I like your body.  I like what it does,
I like its hows.  I like to feel the spine
of your body and its bones,and the trembling
-firm-smooth ness and which I will
again and again and again
kiss, I like kissing this and that of you,
I like, slowly stroking the,shocking fuzz
of your electric furr,and what-is-it comes
over parting flesh… And eyes big love-crumbs,
and possibly I like the thrill
of under me you so quite new.

[E.E.Cummings]

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Não saberei nunca

Ilustr.: Salvador Dali
Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.

[Mia Couto]


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Pessoas como tu

Ilustr.: Denis Nuñez Rodriguez
São as pessoas como tu que fazem com que o nada queira dizer-nos algo, as coisas vulgares se tornem coisas importantes e as preocupações maiores sejam de facto mais pequenas.

São as pessoas como tu que dão outra dimensão aos dias, transformando a chuva em delirante orvalho e fazendo do inverno uma estação de rosas rubras.

As pessoas como tu possuem não uma, mas todas as vidas.
Pessoas que amam e se entregam porque amar é também partilhar as mãos e o corpo.
Pessoas que nos escutam e nos beijam e sabem transformar o cansaço numa esperança aliciante, tocando-nos o rosto com dedos de água pura, soltando-nos os cabelos com a leveza do pássaro ou a firmeza da flecha.

São as pessoas como tu que nos respiram e nos fazem inspirar com elas o azul que há no dorso das manhãs, e nos estendem os braços e nos apertam até sentirmos o coração transformar o peito numa música infinita.

São as pessoas como tu que nunca nos pedem nada mas têm sempre tudo para dar, e que fazem de nós nem ícaros nem prisioneiros, mas homens e mulheres com a estatura da vida, capazes da beleza e da justiça, do sofrimento e do amor.

São as pessoas como tu que, interrogando-nos, se interrogam, e encontram respostas para todas as perguntas nos nossos olhos e no nosso coração.
As pessoas que por toda a parte deixam uma flor para que ela possa levar beleza e ternura a outras mãos.
Essas pessoas que estão sempre ao nosso lado para nos ensinar em todos os momentos, ou em qualquer momento, a não sentir o medo, a reparar num gesto, a escutar um violino.

São as pessoas como tu que ajudam a transformar o mundo.

[Joaquim Pessoa]

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Decidi

Ilustr.: Denis Nunez Rodriguez

E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar...
Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las.
Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.
Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.
Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.
Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.
Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar.
Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tivesse sido.
Deixei de me importar com quem ganha ou perde.
Agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer.
Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir.
Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de"amigo".
Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, "o amor é uma filosofia de vida".
Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser uma tênue luz no presente.
Aprendi que de nada serve ser luz se não iluminar o caminho dos demais.
Naquele dia, decidi trocar tantas coisas...
Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para tornar-se realidade.
E desde aquele dia já não durmo para descansar... simplesmente durmo para sonhar.

[Walt Disney]

domingo, 4 de agosto de 2013

A imensa alegria de SERVIR

Ilustr.: Jean-Luc Trudel
Toda a natureza é um desejo de serviço.
Serve a nuvem, serve o vento, serve o sulco.
Onde houver uma árvore para plantar,
planta-a tu;
onde houver um erro para corrigir,
corrige-o tu;
onde houver uma tarefa que todos recusem,
aceita-a tu.

Sê quem tira a pedra do caminho,
o ódio dos corações
e as dificuldades dos problemas.

Há a alegria de ser sincero e de ser justo;
há, porém, mais do que isso,
a imensa alegria de servir.

Como seria triste o mundo
se tudo já estivesse feito,
se não houvesse uma roseira para plantar,
uma iniciativa para lutar!

Não te seduzam as obras fáceis.
É belo fazer tudo
que os outros se recusam a executar.

Não cometas, porém, o erro
de pensar que só tem merecimento executar
as grandes obras;
há pequenos préstimos que são bons serviços:



enfeitar uma mesa.
arrumar uns livros.
pentear uma criança.

Aquele é quem critica,
este é quem destrói;
sê tu quem serve.

Servir não é próprio dos seres inferiores:
Deus, que nos dá fruto e luz,
serve.
Poderia chamar-se: o Servidor.
E tem os seus olhos fixos nas nossas mãos
e pergunta-nos todos os dias:
- Serviste hoje?

[Gabriela Mistral]

sábado, 3 de agosto de 2013

Coragem

Ilustr.:  Salvador Dali


Fugir é, muitas vezes, a coragem praticável.
Fugir é, quase sempre, a coragem dos cobardes.
Toda a gente foge.
Mas há quem consiga fugir a caminho do que teme.
A coragem é fugir a caminho do que se teme.

[Pedro Chagas Freitas]

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Sonhador

Ilustr.: Brian Deines

A superioridade do sonhador consiste
em que sonhar é muito mais prático que viver,
e em que o sonhador extrai da vida um prazer
muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de acção.
Em melhores e mais directas palavras,
o sonhador é que é o homem de acção.

[Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego']

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Script

Ilustr.: Mylene Henry




Meu destino não passa pelo poder, pela religião, por qualquer uma dessas entidades idiotas.
Meu script é original, fui eu quem o fiz.
Por isso, não morro no fim!

[Millôr Fernandes]