sábado, 28 de fevereiro de 2015

50 passos

Ilustr.: Mark Lovett
E nesse mar de gente...
deixe, passe e deixe passar
um dia tudo acaba, para outra vida recomeçar
encontre seus limites e ultrapasse-os
tenha um bocado mais de louco, do que de sábio
nem tudo é o que parece, você é forte e grande
é só olhar para dentro de si mesmo, e verá adiante
um caminho de 50 passos, dê o primeiro...
lembre-se que ainda faltam 49, e você não pode esperar o dia inteiro
e se você olhar atentamente, se pode ir sim mais longe
depois de se pensar que era impossível, siga e não se amedronte
Entenda como quiser, mas não julgue como bem entender.
Ser diferente, não significa ser melhor ou pior que você.

[Kayque Meneguelli]

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Asas

Ilustr.: Cécile Vallée






Minhas asas não estão nas costas,
elas estão dentro de minha alma.

[Adilson Costa]

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Escolher a Felicidade

Ilustr.: Andrius Kovelinas
Nem paz nem felicidade se recebem dos outros nem aos outros se dão.
Está-se aqui tão sozinho como no nascer e no morrer; como de um modo geral no viver, em que a única companhia possível é a daquele Deus a um tempo imanente e transcendente e a dos que neles estão, a de seus santos.
Felicidade ou paz nós as construímos ou destruímos: aqui o nosso livre-arbítrio supera a fatalidade do mundo físico e do mundo do proceder e toda a experiência que vamos fazendo, negativa mesmo para todos, a podemos transformar em positiva. Para o fazermos, exige-se pouco, mas um pouco que é na realidade extremamente difícil e que não atingiremos nunca por nossas próprias forças:
exige-se de nós, primacialmente, a humildade;
a gratidão pelo que vem, como a de um ginasta pelo seu aparelho de exercício;
a firmeza e a serenidade do capitão de navio em sua ponte, sabendo que o ata ao leme não a vontade de um rei, como nos Descobrimentos, mas a vontade de um rei de reis, revelada num servidor de servidores;
finalmente, o entregar-se como uma criança a quem sabe o caminho.
De qualquer forma, no fundo de tudo, o que há é um acto de decisão individual, um acto de escolha; posso ser, se tal me agradar, infeliz e inquieto. 

[Agostinho da Silva]

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Carácter

Ilustr.: Georgy Kurasov






Deixa o carácter ser formado pela poesia,
fixado pelas leis do bom comportamento,
e aperfeiçoado pela música.

[Confúcio]

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Como?

Ilustr.: Chanelle Kotze
Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

[Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume']

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Não é o suficiente

Ilustr.: Cécile Vallé





"Apenas viver não é o suficiente“, disse a borboleta.
É preciso ter sol, liberdade, e uma pequena flor.

[Hans Christian Andersen, in 'The Complete Fairy Tales']

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Leia, Ouça, Veja, mas sobretudo, Pense

Ilustr.: Valeria Docampo
Se grandes invenções ou descobertas, como o fogo, a roda ou a alavanca, se fizeram antes que o homem fosse, historicamente, capaz de escrever, também se põe como fora de dúvida que mais rapidamente se avançou quando foi possível fixar inteligência em escrita, quando o saber se pôde transmitir com maior fidelidade do que oralmente, quando biblioteca, em qualquer forma, foi testamento do passado e base de arranque para o futuro. A livro se veio juntar arquivo, para o que mais ligeiro se afigurava; e fora de bibliotecas ou arquivos ficaram os milhões de páginas de discorrer ou emoção humana que mais ligeiras pareceram ainda, ou menos duradouras. Escrevendo ou lendo nos unimos para além do tempo e do espaço, e os limitados braços se põem a abraçar o mundo; a riqueza de outros nos enriquece a nós. Leia.

Milhões de homens, porém, no mundo actual estão incapacitados de escrever e de ler, muito menos porque faltam métodos e meios do que incitamento que os levante acima do seu tão difícil quotidiano e vontade de quem mais pode de que seus reais irmãos mais dependam de si próprios do que de exteriores e quase sempre enganadoras salvações. Mais se comunica falando do que de qualquer outra forma; o que nos dizem muitas vezes nos parece de nenhuma importância, mas talvez tenha havido uma falha na atitude de escutar do que no conteúdo do que se disse; porventura a palavra-chave estava aí, mas estávamos distraídos, ou ansiosos por nós próprios falarmos; e no vento fugiu, a outros ouvidos ou a nenhuns. Ouça.

No tempo em que a antropologia ainda julgava que o homem descendia do macaco notou-se, para os distinguir, que um, mesmo no estádio mais primitivo, desenhava; o outro, mesmo que antropóide superior, nem olhava o desenho. Imagem nos veio acompanhando pela História fora, desde as pinturas ou gravuras rupestres, cujo verdadeiro significado ainda está por encontrar, até cinema ou televisão, sobre cujo significado igualmente muitas vezes nos podemos interrogar e que se tem de arrancar o mais depressa possível ao domínio do lucro, da publicidade ou das propagandas ideológicas para que possam cumprir, como nas formas mais antigas, a sua missão de iluminar, inspirar e consagrar o mundo. Imagem o cerca. Veja.

Mas o que vê e ouve ou lê nada mais lhe traz senão matéria-prima de pensamento, já livre de muita impureza de minério bruto, porquanto antes do seu outros pensamentos o pensaram; mas, por o pensarem, alguma outra impureza lhe terão juntado. Nunca se precipite, pois, a aderir; não se deixe levar por nenhum sentimento, excepto o do amor de entender, de ver o mais possível claro dentro e fora de si; critique tudo o que receba e não deixe que nada se deposite no seu espírito senão pela peneira da crítica, pelo critério da coerência, pela concordância dos factos; acredite fundamentalmente na dúvida construtiva e daí parta para certezas que nunca deixe de ver como provisórias, excepto uma, a de que é capaz de compreender tudo o que for compreensível; ao resto porá de lado até que o seja, até que possa pôr nos pratos da sua balancinha de razão. A tudo pese. Pense. 

[Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos']

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Pés no chão

Ilustr.: Albin Veselka





É fácil apagar as pegadas;
difícil, porém,
é caminhar sem pisar o chão.

[Lao-Tsé]

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Dies Irae

Ilustr.: Brita Seifert
Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!

[Miguel Torga, in 'Cântico do Homem']

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Verdade e mentira

Ilustr.: Ronald Companoca





A mentira não se torna verdade por se difundir e multiplicar facilmente.
Do mesmo modo, a verdade não se torna mentira pelo facto de ninguém a ver.

[Mahatma Ganghi]

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Alma vazia

Ilustr.: TD Yukiryuu
Sai minha tristeza
Deixa o amor entrar
Não quero ficar sozinha

Só de alma vazia
Outro dia sem cor
Que me pintasse de amor
Com o fogo da paixão

Quem eu quero não me quer
E a quem me quer não me dou
Prisioneira deste medo de me perder
De voltar a dar de mim e outra vez depender
De um amor que faz doer e da prazer
E eu não

Não já não aguento a solidão
O amor não vem e eu não
Já não aguento a solidão
Só quero outra paixão
E voltar a dar de mim

Vai doce desejo
Procurar num olhar
O amor que me sorria

Estou só de alma vazia
Outro dia sem cor
Que me pintasse de amor
Com o fogo da paixão

Quem eu quero não me quer
A quem me quer não me dou
Prisioneira deste medo de me perder
De voltar a dar de mim e outra vez depender
De um amor que faz doer e da prazer
E eu não

Não já não aguento a solidão
O amor não vem e eu não
Já não aguento a solidão
Só quero outra paixão
E voltar a dar de mim

[Adelaide Ferreira]

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Conviver

Ilustr.: Mark Shasha




Aprendemos a voar como pássaros,
e a nadar como peixes,
mas não aprendemos a conviver como irmãos.

[Martin Luher King]

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A forma justa

Ilustr.: Shelagh Duffett
Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

[Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'O Nome das Coisas']

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Sem volta

Ilustr.: Valeria Docampo


Há três coisas na vida que nunca voltam atrás:
a flecha lançada,
a palavra pronunciada e
a oportunidade perdida

[Provérbio chinês]

sábado, 14 de fevereiro de 2015

A Arte da Guerra

Ilustr.: Georgy Kurasov
Sun Tzu diz:
A guerra tem importância crucial para o Estado. É o reino da vida e da morte. Dela depende a conservação ou a ruína do império. Urge bem regulá-la. Quem não reflete seriamente sobre o assunto evidencia uma indiferença condenável pela conservação ou pela perda do que mais se preza. Isso não deve ocorrer entre nós.

A arte da guerra implica cinco fatores principais, que devem ser o objeto de nossa contínua meditação e de todo o nosso cuidado, como fazem os grandes artistas ao iniciarem uma obra-prima. Eles têm sempre em mente o objetivo a que visam, e aproveitam tudo o que vêem e ouvem, esforçando-se para adquirir novos conhecimentos e todos os subsídios que possam conduzi-los ao êxito. Se quisermos que a glória e o sucesso acompanhem nossas armas, jamais devemos perder de vista os seguintes fatores: a doutrina, o tempo, o espaço, o comando, a disciplina.

A doutrina engendra a unidade de pensamento; inspira-nos uma mesma maneira de viver e de morrer, tornando-nos intrépidos e inquebrantáveis diante dos infortúnios e da morte.

Se conhecermos bem o tempo, não ignoraremos os dois grandes princípios yin e yang, mediante os quais todas as coisas naturais se formam e dos quais todos os elementos recebem seus mais diversos influxos. Apreciaremos o tempo da interação desses princípios, para a produção do frio, do calor, da bonança ou da intempérie.

O espaço, como o tempo, não é menos digno de nossa atenção. Se o estudarmos bem, teremos a noção do alto e do baixo; do longe e do perto; do largo e do estreito; do que permanece e do que não cessa de fluir.

Entendo por comando a equidade, o amor pelos subordinados e pela humanidade em geral. O conhecimento de todos os recursos, a coragem, a determinação e o rigor são as qualidades que devem caracterizar aquele que investe a dignidade de general. São virtudes necessárias que devemos adquirir a qualquer preço. Somente elas podem tornar-nos aptos a marchar dignamente à frente dos outros.

Aos conhecimentos acima mencionados convém acrescentar o de disciplina. Possuir a arte de ordenar as tropas; não ignorar nenhuma das leis da hierarquia e fazer com que sejam cumpridas com rigor; estar ciente dos deveres particulares de cada subalterno; conhecer os diferentes caminhos que levam a um mesmo lugar; não desdenhar o conhecimento exato e detalhado de todos os fatores que podem intervir; e informar-se de cada um deles em particular. Tudo isso somado constitui uma doutrina, cujo conhecimento prático não deve escapar à sagacidade nem à atenção de um general.

Se tu - que a escolha do príncipe colocou à testa dos exércitos - calcares teus fundamentos de ciência militar sobre os cinco princípios que acabo de estabelecer, a vitória será teu galardão. Em compensação, sofrerás as mais abjetas derrotas se, por ignorância ou presunção, vieres a omiti-los ou a rejeitá-los. 

[Sun Tzu, in 'A Arte da Guerra']

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Inferioridade

Ilustr.: Wassily Kandinsky


O homem que tem coragem de desperdiçar uma hora do seu tempo não descobriu o valor da vida. O homem, com todas as suas nobres qualidades, ainda conserva na sua estrutura
física os sinais característicos da espécie inferior.

[Charles Darwin]

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Começa a haver meia-noite, e a haver sossego

Ilustr.: Ronald Companoca
Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,
Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro-andar...
Não oiço já passos no segundo-andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...

Vai tudo dormir...

Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! —

Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel! — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me
O som de um portão que se fecha brusco dói-me...

Vai tudo dormir...

Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa...

[Álvaro de Campos, agosto 1934]

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

De ti e dos outros

Ilustr.: Pierre Carrier-Belleuse






Exige muito de ti e
espera pouco dos outros.


[Confúcio]

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O tempo não pára

Ilustr.: Valeria Docampo
Eu sei
Que a vida tem pressa
Que tudo aconteça
Sem que a gente peça
Eu sei

Eu sei
Que o tempo não pára
O tempo é coisa rara
E a gente só repara
Quando ele já passou

Não sei se andei depressa demais
Mas sei, que algum sorriso eu perdi
Vou pedir ao tempo que me dê mais tempo
Para olhar para ti
De agora em diante, não serei distante
Eu vou estar aqui

Cantei
Cantei a saudade
Da minha cidade
E até com vaidade
Cantei
Andei pelo mundo fora
E não via a hora
De voltar p'ra ti

Não sei se andei depressa demais
Mas sei, que algum sorriso eu perdi
Vou pedir ao tempo que me dê mais tempo
Para olhar para ti
De agora em diante, não serei distante
Eu vou estar aqui

Não sei se andei depressa demais
Mas sei, que algum sorriso eu perdi
Vou pedir ao tempo que me dê mais tempo
Para olhar para ti
De agora em diante, não serei distante
Eu vou estar aqui

[Mariza]

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Mais ou menos

Ilustr.: Georgy Kurasov

A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos. Tudo bem…
O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum, é amar mais ou menos, é sonhar mais ou menos, é ser amigo mais ou menos, é namorar mais ou menos, é ter fé mais ou menos e acreditar mais ou menos.
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.

[Chico Xavier]

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Até quando?

Ilustr.: Valeria Docampo
Até quando ficaremos de olhos e boca fechados?
Até quando suportaremos as barbaridades que acontecem diariamente?
Se alguém é assaltado a nossa reação é dizer “ainda bem que você está bem e que não aconteceu nada de grave”.
Parece que temos que agradecer por só terem levado as coisas materiais. Parece que temos que dizer “obrigada, seu ladrão, por não me estuprar, esfaquear ou dar um tiro”.
Até quando agiremos assim?

Não é normal ser assaltado, não é normal apanhar, não é normal ter a bolsa furtada. Nada disso é normal. O natural é cada um procurar dar o melhor que tem, trabalhar, construir o seu futuro. É claro que existe uma grande desigualdade social. É claro que tem rico, tem pobre, tem mansão e tem favela. É claro que tem criança pedindo no sinal. É claro que tem sujeira na rua. É claro que tem fila no SUS (Sistema Único de Saúde, sistema público de Saúde, no Brasil). É claro que tem gente com fome, sede e frio. Mas a solução para tudo isso não é encostar um revólver calibre 38 na cabeça de uma pessoa que está parada no semáforo, distraída, cantarolando sua música preferida e levar bolsa, celular, carro. Isso quando não levam a pessoa junto.

Me desculpa, mas eu nunca vou me conformar ou achar normal esse tipo de coisa. Está faltando amor, compaixão, doação, caridade e respeito.
E quer saber o pior?
Não sei onde tudo isso vai parar. Não sei onde nós iremos parar.

[Clarissa Corrêa]

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Fazer a diferença

Ilustr.: <origem desconhecida>




Que a gente mantenha um sorriso na boca.
E não esmoreça quando a vida fechar uma porta.
Que a gente entenda que não dá pra abraçar o mundo.
Mas dá pra abraçar algumas pessoas e fazer a diferença.

[Clarissa Corrêa]

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Endividados

Ilustr.: Pregnant woman by ironland on DeviantArt 




Quando a gente gosta, a gente começa emprestando um livro, depois um casaco, um guarda-chuva, até que somos mais emprestados do que devolvidos.
Gostar é não devolver,
é se endividar de lembranças.

[Fabrício Carpinejar]

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Coisa pouca

Ilustr.: Fatemeh Haghnejad



Para termos uma noção do pouco que valemos, basta subtrair ao que somos o que aprendemos, o que lemos, o que vivemos com os outros. É só ver o que fica. Coisa pouca. Sozinho quase ninguém é quase nada. É somente juntos que podemos ser alguma coisa.

[Miguel Esteves Cardoso]

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Homo

Ilustr.: Nina Kuriloff
Nenhum de vós ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece...

Ninguem sabe quem sou... e mais, parece
Que ha dez mil annos já, neste degredo,
Me vê passar o mar, vê-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece...

Sou um parto da Terra monstruoso;
Do humus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pae nem mãe...

Mixto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanaz; —talvez um filho
Bastardo de Jehová; —talvez ninguem!

[Antero de Quental]

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Num abraço

Ilustr.: Lauri Blank




Aquela vontade enorme de morar num abraço.
Um desejo quase vital de que o tempo parasse por alguns minutos,
para nada,
absolutamente nada,
ser mais intenso que dois corações pulsando juntos.

[Matheus Rocha]

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Canção de ninar meu bem

Ilustr.: Katya Longhi
Hoje a lua despiu seu véu
E flutua a dormir no céu
Na canção que de mim nasceu
Meu amado adormeceu
Meu amado adormeceu

Dorme, meu amor
Como no céu a lua
Tu serás sempre meu
E eu só tua

Dorme, amigo, que a poesia
É um mistério que não tem fim

Dorme em calma
Que assim, um dia
Dormirás para sempre em mim
Dormirás para sempre em mim

[Vinicius de Moraes]

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Tempo

Ilustr.: Geneviève Godbout

Há um tempo
Sem tempo.
E gente que não tem tempo
Para dar tempo
Ao tempo que ainda tem.
Mas um dia virá,
Em que o tempo abundará.
Só que então
O tempo jamais será
Um tempo de doação.
Será um tempo solitário,
Um tempo de quem espera,
Um tempo já sem tempo
Para dar ao tempo
Que se tem.

[Helena Sacadura Cabral]