sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A horas

Ilustr.: HJ Story





Esquece o relógio e anda.
Um abraço teu chega sempre a horas.

[Pedro Chagas Freitas, in 'O Livro dos Loucos']

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Coração Habitado

Ilustr.: Oldřich Kulhánek

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam que são as mãos de deus
— eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.

[Eugénio de Andrade, in 'Até Amanhã']

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Porque me apetece (3)

Ilustr.: Margarita Sikorskaia
- Hoje apetece-me viver contigo para sempre.
As grandes decisões são as que se tomam sem pensar, e hoje apetece-me que sejas meu sem que mais ninguém te toque, hoje apetece-me ser a tua mulher e nem te permitir uma tentação que seja, chama-me egoísta se quiseres mas do que não me podes acusar é de deixar a felicidade por tentar. 
- De quantos anos precisas para saberes que é para sempre?
Ele não ficou triste por ser só de uma mulher de repente, pois se sempre o havia sido mesmo quando não tinha de o ser, abraçaram-se e desta vez resolveram nem festejar mais o novo ano, havia decisões para tomar, a casa para escolher, tudo aquilo que todos os casais têm de fazer para começarem uma vida juntos. 
- Nunca pensei que ser normal fosse tão extraordinário.
Casaram e foram eles para sempre: todos os contos infantis deviam terminar assim. O deles, no entanto, é entre adultos. Mas não é por isso que deixa de ser infantil.
Casaram e foram eles para sempre.

[Pedro Chagas Freitas]

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Porque me apetece (2)

Ilustr.: Dorina Costras
Não foram, não são, talvez nunca venham a ser, um casal como os outros, não acreditam em viver juntos, não acreditam em casamento, não acreditam sequer em filhos ou em família. Provavelmente até nem um casal são, se quisermos ser rigorosos. Acreditam no instante do amor, como decidiram chamar-lhe. Amam-se como se amassem a vida, consomem-se desesperadamente, inventam novos pedaços de pele para provar. Depois, vai cada um para a sua casa e dedicam-se a amar-se sem que os corpos tenham qualquer relação com isso.

- Não sei se amo mais a tua pele ou a memória dela.

Acreditavam sobretudo numa máxima que haviam criado a meias, segundo a qual não poderiam deixar nenhuma felicidade por tentar. Era por isso que, embora nenhum dos dois o tenha feito alguma vez, permitiam que o outro fosse livre para fazer o que bem entendesse com quem entendesse.

- Há que tentar o que nos apetecer.

Nesta noite, em que se festejava a passagem de mais um dia, voltaram ao ritual de sempre. Ela apertou-o, pediu-lhe para nunca mais ele a largar, ele apertou-a e pediu-lhe para nunca mais ela o largar, ficaram assim alguns minutos, foram mudando de posição enquanto se apertavam, até que ela lhe pediu para nunca mais ele a largar e largou-o, e depois ele pediu para nunca mais ela o largar e largou-a. Foram, a pé, silenciosos, para a rua, onde cada um seguiu o seu caminho e onde, separados, sentiram que a verdadeira ligação era a deles, a que lhes permitia guardar do que se ama apenas a melhor memória, apenas o melhor instante. Sentiram-se, então, plenamente consumados.

- Por favor ama-me com defeitos.

Ou não. Ou então não foi nada assim. Ou então ela percebeu que o que amavam era um espécie de amor, e ela não gostava de espécies de coisa nenhuma.

- Ou gero uma espécie ou sou uma espécie de pessoa.

E ele recebeu-a no seu apartamento ao qual ela nunca tinha ido porque tinham resolvido encontrar-se sempre em território neutro (para quê trazermos um espaço ocupado a algo que vamos ocupar por inteiro?), e ela disse-lhe “quero-te mesmo que sejas fraco, mesmo que tenhas problemas, mesmo que por vezes me irrites ou me magoes, mesmo que tenhamos de sofrer como cães para nos mantermos juntos”, e ele abriu-lhe os braços, disse-lhe “nunca esperei que me quisesses como te quero, sinto-te a falta desde que te tenho, as memórias são tão boas mas para dizer a verdade prefiro o original à imitação”.

[Pedro Chagas Freitas]

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Porque me apetece (1)

Ilustr.: Georgy Kurasov
- Ama-me como se me tivesses descoberto agora.
Na última noite do ano apetece-me o que me apeteceu todas as noites do ano: o teu corpo junto ao meu, pode até nem haver o orgasmo que continuo feliz na mesma, e a vida, bem lenta, a passar com a tua pele na minha.
- Ensina-me a envelhecer-me feliz.
Sou uma mulher de gostos simples, não digo que exijo o melhor, limito-me a dizer que tenho o melhor ou não tenho nada.
- Promete-me que te esqueces do tempo quando me tocas.
E ele prometeu. Era quase meia noite, no mundo daquele país tremia-se de ansiedade, havia foguetes quase a estoirar no ar, um novo ano é sempre motivo para celebrar, e o toque aconteceu.
- Tudo acontece por uma razão mas é o tanas. Tudo o que realmente acontece é o que não tem qualquer razão.

[Pedro Chagas Freitas]

domingo, 26 de outubro de 2014

Epidemia da sinceridade desvairada

Ilustr.: Ryan Bongers
Quando andava na escola primária, tinha um colega que respondia às perguntas que não percebia da professora com um “hã?” cheio de arrasto. A professora explicou-lhe — para lá de uma mão de vezes — que não se diz “hã?” mas sim “como disse?”. Ele não só deixou de dizer “hã?” rapidamente como não tenho dúvidas que aquela mão de vezes lhe persegue as respostas que dá até aos dias de hoje.

Fui à escola primária e vim porque cada vez mais acho que as pessoas se revelam na maneira como se posicionam no mundo. Naquilo que dizem, sobretudo naquilo que não dizem, e na forma como dizem. A razão porque cada vez gosto mais dos cães é porque abriram a porta ao vírus da sinceridade desvairada.

Este vírus é uma epidemia e atinge a minha geração e todas as pessoas que vivem na nova forma de estar versão “reality show”, assente na delicadeza com que se tratam todos os participantes destes aquários de boçalidade humana. Regem-se pela bíblia da frontalidade grosseira, levada ao colo nestes termos: “Eu sou uma pessoa sincera. Digo o que penso”.

O problema é que esta falta de filtros, que resvala para aquela digníssima má educação, parece que se tornou — aos olhos dos outros — numa capacidade de afirmação de se lhe tirar o chapéu. Reina pela falta de sensibilidade, descamba até um volume de decibéis sem descrição e prima por um rodar de cabeça que se pavoneia sobranceiro sobre todo e qualquer um que estiver a ouvir.

Depois, e porque a frontalidade sem recuo não escolhe classes, ainda há a turma dos que tentam ser polidos mas rematam com um “vais-me desculpar, mas tenho que te dizer: isso é horrível”. E, assim, a frontalidade vira costas, quando nunca lhe foi pedida qualquer opinião, de cabeça perfeitamente tranquila com aquilo que os princípios da sinceridade lhe dizem. Nós, que coramos de vergonha alheia perante a desfaçatez de quem diz, ficamos incapazes de retorquir aquilo que os filtros nunca nos vão deixar sair “se soubesses como ficas a comer de boca aberta estavas caladinho/a”.

E, assim, nós, quais aparentes cobardes das opiniões saltitonas sobre todo e qualquer assunto, vamos gerindo os dias, calados, na fila do supermercado, a assistir a telefonemas de quem espera à nossa frente: “Ouve lá, se estás aí fora, esperas, que eu também esperei por ti para sair de casa”. Telefonemas que terminam a seco, que se desligam sem antes haver um adeus. O “esperas” enternece-me. As pessoas agora não perguntam, ordenam: “Estás aí fora? Esperas”. Não vá quem espera pensar em não esperar, a ordem está dada e não aceita recuo, pelo menos perante aquele desligar que se impõe sem adeus.

Assim, vamos gerindo os dias, mudos, ao balcão dos cafés, quando nos cai no colo o simpático “queria ou quer um galão?”. Aquela menina nunca vai perceber que aquele pretérito imperfeito é tudo menos falta de vontade de lhe virar o galão em cima. É, sobretudo, um pretérito imperfeito de cortesia que só queria ser delicado. Já agora, se ainda não for demais, queria o galão, sim, se ainda quiser fazer o favor.

[Marta Couto, 26/11/2013, in Público]

sábado, 25 de outubro de 2014

Ilustr.: Chanelle Kotze





Ter fé é
acreditar naquilo que você não vê;
a recompensa por essa fé é
ver aquilo em que você acredita.

[Santo Agostinho]

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A paz sem vencedor e sem vencidos

Ilustr.: Viviana González

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

[Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Dual' (1972)]

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Tribos

Ilustr.: Georgy Kurasov
Punks, Nerds, Góticos, Headbangers, Rivetheads, Indies,
Emos, Hippies, Manos, Pagodeiros, Clubbers, Skinheads,
Surfistas, Otakus e Baladeiros.

Em qual tribo você se encaixa? Em qual tribo você se encontra?
Não é apenas um jeito de se vestir ou agir. Motivos comportamentais, sociais e psicológicos. São diversas alternativas, centenas de jeitos diferentes de se portar e viver em sociedade.

Como uma válvula de 'scape', são nas famosas e peculiares tribos, que muitos jovens e adultos se sentem confortáveis e livres.
Em quantos filmes e seriados a seguinte cena se repete:
" O Pitboy que odeia o Emo, soca o Nerd pra se encontrar com os Baladeiros"
Simplesmente nessa frase acima descrita, é possível se encontrar três tribos totalmente diferentes, cada uma com sua singularidade.

A inquestionável, e muitas vezes despercebida pergunta me surgiu.
De onde vem tanta rivalidade entre tribos? A resposta dessa pergunta, possui tantas ramificações e tabus que diversas teorias são criadas, porém deve-se ressaltar que como o próprio nome já diz, são apenas teorias.

Seria então, a peculiaridade e distinção de uma para outra, ou o motivo principal é a falta de respeito e compreensão com o próximo?
É evidente, que não venho aqui dizer que todas as tribos agem dessa forma, não é possível tal absurdo.

É fato que a grande maioria tem certa repulsa pela diferença e o choque de ideais. O ideal seria que todos nós, seja você Nerd, Punk ou Hippie. Que nós passemos a ver cada pessoa, como uma vida, que tem todo o direito de viver em paz consigo mesmo e com a sociedade, sempre lembrando que só há paz quando sua felicidade não prejudica outras pessoas.

Você tem liberdade para fazer o que bem entender, agir e se comportar da maneira que quiser, mas sua principal ferramenta para o sucesso, é o bom senso. Use-o de maneira correta.

Seja você de qualquer tribo, ou de tribo alguma.

[Kayque Meneguelli]

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Satsang

Ilustr.: Eva Armis
Satsang pode significar várias coisas. Sentar em boa companhia, estar junto a um sábio e receber dele os ensinamentos. Pode significar também encontro com a verdade. Mas numa forma mais profunda, satsang é a experiência da Verdade.
Sentar junto ou mesmo receber o conhecimento, os ensinamentos é somente um jogo, um jogo divino que favorece a experiência da Verdade.
Pouco a pouco sua mente vai-se aquietando. E a sua consciência manifesta-se.

[Sri Prem Baba]

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Plenitude

Ilustr.: Daniela Ovtcharov
Assim a verdade só é possível através da experiência direta. Ninguém pode lhe dar a verdade. Eu não posso lhe dar a verdade. Eu posso abrir um caminho, mas só você pode experienciar a verdade. É você com você mesmo. Em outras palavras, a iluminação começa quando a imaginação cessa. A iluminação é o reconhecimento da sua verdadeira natureza. Este reconhecimento gera alegria sem causa. Gera paz. Paz sem causa. Não depende de nada lá fora. É isto que você está buscando. Todo o ser humano está em busca da paz, mesmo que não saiba disso. Mesmo sem saber, você está em busca deste estado que é um estado de completude. Você se sente pleno. Nada falta. Esse preenchimento promove paz independentemente do que está acontecendo lá fora.  

Então, consciente ou inconscientemente, todos estão em busca deste estado iluminado porque ele traz este sentimento de plenitude e consequentemente a paz. Mas este estado tão procurado, só começa quando a imaginação cessa.

Para a imaginação cessar se faz necessário limpar o lixo da mente. Este lixo são conceitos, preconceitos, crenças, ideias ou ainda sentimentos negados, suprimidos que nada mais são do que pensamentos que se transformaram em sentimentos e que, ao serem negados, agem como pedras que impedem o fluxo da consciência.

[Sri Prem Baba]

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O tempo

Ilustr.: Salvador Dali

Um velho sábio disse uma vez:
É de nossa responsabilidade o que fazemos com o nosso tempo, aquilo que escolhemos para nossa vida.  É importantíssimo definir prioridades, nomear o que é nosso e trazê-lo para perto.
Pois quando esquecemos algo vital, estamos dando ao tempo e ao destino, a oportunidade que eles precisam para se rebelar contra nós.

[Rick Riordan]

domingo, 19 de outubro de 2014

Pergunta-me

Ilustr.: Chanelle Kotze
Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

[Mia Couto]

sábado, 18 de outubro de 2014

Um sonho

Ilustr.: Katie m. Berggren





Não me basta ter um sonho.
Eu quero ser um sonho.

[Mia Couto, in 'O último voo do flamingo']

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Apesar de tudo

Ilustr.: Jimmy Lawlor


Apesar de tudo amar.
Apesar de tudo viver.
Apesar de tudo sentir.
Apesar de tudo arriscar.
Querer apesar de tudo.
Crer apesar de tudo.
Insistir apesar de tudo.
Ser apesar de tudo.
Ir apesar de tudo.
Apesar de tudo é o melhor conselho que alguém pode dar a alguém.
Por mais coisas que nos faltem na vida
há tantas coisas que não nos faltam na vida apesar de tudo.

[Pedro Chagas Freitas]

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Agora vou

Ilustr.: Katie m. Berggren



Vou fazer morada na lua, dormir com as estrelas, sentir apenas o cheiro da noite.
Sentir o vento e o passar dos cometas,
enquanto eu estiver dormindo
crio o meu próprio mundo,
onde a fantasia mora.

[Carina Sousa]

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Amizade

Ilustr.: HJ Story




O tempo não passa pela amizade.
Mas a amizade passa pelo tempo.
É preciso segurá-la enquanto ela existe.
Somos amigos para sempre mas
entre o dia de ficarmos amigos e o dia de morrermos
vai uma distância tão grande como a vida.

[Miguel Esteves Cardoso]

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Sementes

Ilustr.: Nicoletta Tomas Caravia



O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada.
Caminhando e semeando,
no fim terás o que colher.

[Cora Coralina]

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Igual a si

Ilustr.: Ronald Companoca
A coisa mais rotineira e quotidiana é ver na Internet e no dia-a-dia a seguinte frase:
"a minha educação depende da sua".
Se uma pessoa te deixa magoado, você tem todo o direito de fazer o mesmo?
Se alguém te tratou mal por menor que seja o motivo, você deve fazer a mesma coisa?
Isso é a coisa mais absurda e comum que acontece.

Seja lá o que você fez, a minha educação não mudará, o mundo está cheio de pessoas ruins e mal educadas. Mas eu não deixo isso me contaminar. Sou o que sou, independente do que você é.

A melhor maneira de desarmar um inimigo, é o tratando bem, com respeito e muita simpatia. Nenhum rosto fechado resiste a um bom sorriso. E se isso acontecer? Você fez a sua parte, e não precisou faltar com educação a ninguém.

Não deixe que a correria da sociedade o impeça de desejar um bom dia ao seu vizinho, ou abrir a porta do banco a um idoso. São as pequenas coisas que fazemos, que mostram quem somos e quão verdadeiras são as nossas intenções.

Lembre-se que se fosse pelas pessoas, muitos dos génios e grandes inventores não teriam existido. Evite deixar-se abater pelo pessimismo e pelo cansaço lembrando, é claro, que muitas vezes isso é quase inevitável.

Thomas Edison, por exemplo, o grande inventor da lâmpada elétrica. Depois de CENTENAS de tentativas, a sua mulher o desestimulou, dizendo que isso era uma ideia absurda e não tinha nenhum fundamento. Ele não se abateu, e sabe o que aconteceu?. Tentou mais uma vez. Ele conseguiu, criou a primeira lâmpada elétrica incandescente.

Por isso, eu concluo, não importa o que as pessoas dizem para você, ou de você. Não mude seus princípios, mude suas opiniões. Mude de vida, mas jamais esqueça as suas raízes.

Independente do que as pessoas são, você é o que você é. E isso ninguém muda, não se pode mudar.

[Kayque Meneguelli]

domingo, 12 de outubro de 2014

Consciência

Ilustr.: Valeria Docampo




Não é a consciência do homem que determina o seu ser,
mas é o seu ser social que determina a sua consciência.

[Karl Marx]

sábado, 11 de outubro de 2014

Vícios

Ilustr.: Georgy Kurasov
Um padrão de comportamento compulsivo de longa duração pode ser chamado de vício, e um vício vive dentro de nós como uma quase-identidade ou subpersonalidade - um campo energético que periodicamente assume total controle sobre nós. Ele chega de fato a dominar nossa mente, a voz na nossa cabeça, que, assim, se torna a voz do vício. Pode dizer-nos algo como: "Você teve um dia duro. Merece um agrado. Por que se negar ao único prazer que lhe resta na vida?"

E, assim, se nos identificarmos com a voz interior por causa da falta de consciência, ver-nos-emos a caminhar para o frigorífico e a pegar uma bela torta de chocolate. Noutras ocasiões, o vício pode superar completamente os nossos pensamentos e, de repente, talvez estejamos fumando um cigarro ou segurando um copo de bebida. "Como é que isto veio parar à minha mão?" Tirar o cigarro do maço e acendê-lo ou servir-se de uma bebida foram atos executados em total inconsciência.

Se você tem um padrão de comportamento compulsivo, como fumar, comer em excesso, beber, ver televisão, ficar muitas horas ligado à internet ou qualquer outra coisa do género, pense em fazer o seguinte: quando observar a necessidade compulsiva despontar dentro de si, páre e respire conscientemente três vezes. Isso desperta a consciência. Então, por alguns minutos, tome consciência dessa ansiedade como um campo energético no seu interior. Sinta de modo consciente essa necessidade física ou mental que o leva a querer ingerir algo, consumir determinada substância ou adotar uma forma de comportamento compulsivo. Em seguida, respire conscientemente algumas vezes. Depois, poderá descobrir que a urgência compulsiva desapareceu - pelo menos dessa vez. Ou que ela ainda o domina, e tudo o que lhe resta é agir sob seu comando de novo.

Nesse caso, porém, não faça disso um problema. Torne o vício parte da sua prática de consciência, seguindo as instruções que acabei de fornecer. À medida que a consciência for aumentando, os padrões de dependência começarão a se enfraquecer e acabarão por se dissipar.

Lembre-se, contudo, de estar atento a todos os pensamentos que justificam o comportamento exigido pelo vício, algumas vezes com argumentos inteligentes.

Pergunte-se: "Quem está dizendo isto?" E perceberá que é o vício.
Uma vez que você saiba disso, que esteja presente como observador da sua mente, serão menores as probabilidades de que ele o engane para que atenda à sua vontade.

[Eckhart Tolle]

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Eu lamento, Pai...

Ilustr.: Paul Knight



Se tu soubesses,
quando deixamos de ter os nossos velhos,
até que ponto lamentamos não lhes havermos dado mais do nosso tempo.

[Alphonse Daudet]

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Poupanças

Ilustr.: Bruce Bingham






Aquele que passa o dia a poupar na doçura,
arrisca-se a chegar à noite ainda mais amargo!

[Luís Gonzaga]

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Não confundas

Ilustr.: Glenn Quist




Não confundas a minha personalidade
com as minhas atitudes.
A minha personalidade é quem eu sou,
as minhas atitudes dependem de quem tu és.

[Frank Ocean]

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Anjos sem asas

Ilustr. from http://www.whispy.com/blog/angels-without-wings/
No nosso mundo, entre os seres que nos ensinaram a identificar como tal, encontramos três tipos de "pessoas". Todas circulam ao nosso redor e, por elas ou por causa delas, somos sujeitos às forças da interação num jogo de atração e repulsão de cargas.

Podereis pensar que me refiro àqueles postulados da Física relativos à interação intermolecular segundo os quais verificamos atração entre cargas opostas e repulsão entre cargas de mesmo sinal. Sim, claro que essa é a referência desta minha reflexão, mas ao contrário!

Vivemos de balança e espada na mão, mas não de olhos vendados, e emitimos o nosso juízo sobre os outros cada vez que com eles nos relacionamos.

Passo a explicar: o primeiro tipo de pessoas são aquelas que circulam fora do alcance da nossa espada e às quais nem prestamos atenção. Cada qual na sua vida, cruzam-se connosco na indiferença do trânsito, do supermercado, do local de trabalho. Ou, simplesmente, não cruzam. Entre essas pessoas haverá, com certeza, pessoas boas e pessoas más, consoante o sinal da carga que revelam. Pela forma como se apresentam ou se impõem (ou não impõem) não chegam a interferir no nosso mundo nem alteram a cor do nosso dia. São estas que, um qualquer dia, em acidentalidade ou intencionalidade, por passarem mais perto ou deixarem perceber o sinal da sua carga, se revelarão anjos ou demónios. Assim mesmo! Em puro maniqueísmo! Tudo é uma questão de tempo...

O segundo tipo de pessoas são os demónios. As pessoas más e de carga negativa. Sem meio termo. Nem o "menos bom", nem o "menos mau". Aqueles que estão na nossa vida para a infernizar: interesseiros, calculistas, sorrateiros, egoístas, invejosos, os que dão com uma mão para cobrarem com a outra, os que pisam para subir e, quando chegados ao topo, se esquecem da sua origem. Os que conseguem mentir a olhar-nos nos olhos, os que não toleram a diferença tal é a ambição, os que não conhecem o perdão senão a vingança, os frios, os vazios, os dissimulados... Enfim, os perigosos. A muitos, permitimos que entrassem na nossa vida como anjos: revelavam-se "gajos porreiros" ou "amigalhaços" para, à primeira oportunidade, no jogo da interação, espalharem a sua aura negra sobre a luz e o brilho que nos é permitido dar ao dia, em cada manhã. Por isso, geram repulsa e delas nos devemos afastar ou manter um relacionamento controlado à distância para que não seja quebrado o estado de equilíbrio das duas cargas em interação.

Finalmente o terceiro tipo de pessoas: os anjos da nossa vida. As pessoas boas e de carga positiva. Aquelas pessoas de energia positiva que atraímos (ou nos atraem para si) tal é a alegria, a serenidade e a paz que transmitem. De presença empática e afável, consciência pura e alma lavada, colocam um raio de sol em cada abraço que envolve, em cada sorriso que nos toca, em cada palavra que nos conforta, em cada silêncio que tolera e nos respeita, tal como somos. Acolhem de cara exposta e postura firme o melhor e o pior que temos para dar, respeitando diferenças, perdoando fragilidades, fazendo o bem. Terão afirmado outrora: "vou passar o meu céu a fazer o bem na terra!", como Santa Teresinha do Menino Jesus. Ora, se anjos há sobre esta terra, estas são as pessoas de aura colorida e brilhante que recebemos no coração, a quem escutamos e a quem nos entregamos, com todas as virtudes e defeitos. Simplesmente porque tornam o nosso dia mais bonito e a nós melhores pessoas.

Neste jogo de forças que regulam a interação, ora de atração ora de repulsão, fica subjacente o sinal da carga de quem aqui reflete mas permaneço firme quanto aos meus enunciados.


A esse propósito, sigo o falseacionismo de Popper:
aproxima-te e dir-te-ei em que canto da minha vida te quero.


[Luís Gonzaga, 07/10/2014]



P.S.: Em memória da Nela e de todos os "anjos" que recentemente se vestiram de Luz e regressaram à Eternidade, deixando mais sombria esta nossa vida terrena.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

CAPS LOCK

Ilustr.: HJ Story
CAPS LOCK: tal palavra já se tornou um jargão nas rodas adolescentes, desde que foi jogada de pára-quedas nos mídia. Essa tecla 'meramente' lembrada no nosso teclado, tomou uma força e popularidade significante.

Mas o que seria Caps Lock? Na tradução crua e nua, seria Capital Letters Lock (trava letras maiúsculas). Mas é óbvio que para nós, isso não tem nada a ver. Uma pessoa que sempre viveu de acordo com todas as normas, sempre respeitou tudo e todos, que não fala palavrão, pode vir futuramente a se tornar uma pessoa Caps Lock.

Mudamos de acordo com o rumo das nossas vidas, nossas ações nos atravessam como atitudes e voltam para nós como efeitos, unicamente. E se você obedecer a todas as regras, vai perder toda a diversão.

Deixe-se levar de vez em quando, espere menos das pessoas e acredite mais em você. Já dizia o manual para o blogueiro iniciante. Pág 1, linha 15, parágrafo 3º. Ser sem noção, às vezes faz todo o sentido. E as pessoas gostam disso.
Identifique-se e torne-se conhecido!
Viva a sua vida em CAPS LOCK!

[Kayque Meneguelli]

domingo, 5 de outubro de 2014

Rumor de ave

Ilustr.: Valeria Docampo
Acorda-me um rumor de ave.
Talvez seja a tarde a querer voar.
A levantar do chão qualquer coisa que vive, e é como um perdão que não tive.
Talvez nada. Ou só um olhar que na tarde fechada é ave. Mas não pode voar.

[Eugénio de Andrade]

sábado, 4 de outubro de 2014

Perda

Ilustr.: Debra Fritts




Por vezes, perdemos pessoas cuja falta lamentamos,
embora essa falta não nos faça sofrer;
e outras, cuja falta nos faz sofrer,
mas cuja perda não lamentamos de todo.

[François La Rochefoucauld]

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Tolerância

Ilustr.: Cecile Veilhan

As coisas muito grandiosas tomam forma através do silêncio, solitude e tolerância.
Tolerância é a habilidade de acomodar diferentes opiniões e indiferentes atitudes, mantendo o autorrespeito e respeitando os outros.
Para reforçar o hábito da tolerância, procure ter uma mente aberta em relação a tudo. Procure entender que cada ser humano possui, dentro de si uma bagagem de conceitos, experiências e memórias absolutamente singulares.
A tolerância é o poder que valoriza essas histórias pessoais, com respeito e amor. Onde houver tolerância numa tarefa ou num relacionamento, haverá sucesso.

[Brahma Kumaris]

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Verdade

Ilustr.:


Utilizamos as palavras para transitar de um estado de mente para um estado de não-mente.
Conforme as suas perguntas vão sendo respondidas, a sua mente vai se acalmando. Ela vai saindo do estado de ansiedade e começa a se acalmar. E se torna receptiva. Aí então é inundada pela consciência que produz a experiência da Verdade.
A mente tenta entender a Verdade. Ela quer uma resposta racional e ela se agita em busca desta resposta, mas as respostas só chegam quando a mente se aquieta. E você compreende a verdade. É quando o conhecimento se transforma em sabedoria.

[Sri Prem Baba]

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Verbo

Ilustr.: Alberto Ruggieri

Verbo é o nome dado à classe gramatical que designa uma ocorrência ou situação.
Porém a única ocorrência que deve acontecer amanhã é a que eu vou assinar por ter proferido contra a minha 'EDUCADORA' palavras de baixo calão. Uma situação muito desagradável e constrangedora.
Devo admitir que estou profundamente angustiado e desesperadamente preocupado com minha avaliação amanhã sobre 'VERBO'.

Daí, caro leitor, você deve com certeza imaginar: mas verbo?
Uma coisa tão fácil, tão quotidiana... todos os dias falamos centenas de verbos sem sequer perceber.

Tudo bem, eu até concordo com essa especulação, porém o meu presente está confuso, e logo se dá a entender que o pretérito perfeito da minha vida está perdido. E com certeza o amanhã vai ser totalmente imperfeito, já que a minha professora quer uma nota mais que perfeita, no futuro do presente ou no futuro do pretérito?

De um modo muito subjuntivo eu digo que o presente, pretérito imperfeito e futuro vão se confundir nos meus neurónios e o modo imperativo afirmativo não vai funcionar, já que o meu percentual de acertos será no modo imperativo negativo, de uma maneira muito singular.

Isso sem se falar nos verbos que metade da população não consegue conjugar, aqueles irritantes e... digo, verbos anómalos.

Conclui-se que verbo, na prática, é fácil: falar, andar, correr, brigar, cantar, beijar, comer, sorrir.
O problema é verbo, na teoria: pensar, estudar, escrever, raciocinar, interpretar, etc e tal's.

[Kayque Meneguelli]