segunda-feira, 30 de junho de 2014

Morre lentamente...

Ilustr.: Danilo Ricciardi

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco, e os pontos sobre os iss em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho nos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva que cai incessante
Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não respondem quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.

[Pablo Neruda]

domingo, 29 de junho de 2014

Sinto-me farto

Ilustr.: Ciro Palumbo

Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia não muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?

[Ruy Belo]

sábado, 28 de junho de 2014

Infelizes

Ilustr.: Virginia Palomeque



Existem três classes de pessoas que são infelizes:
a que não sabe e não pergunta,
a que sabe e não ensina e
a que ensina e não faz.

[Buda]



sexta-feira, 27 de junho de 2014

Criança

Ilustr.: Margarita Sikorskaia
Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, — e resiste,

Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto se fez pensativo,
e não sabe mais o que sente...

Cabecinha boa de menino mudo
que não teve nada, que não pediu nada,
pelo medo de perder tudo.

Cabecinha boa de menino santo
que do alto se inclina sobre a água do mundo
para mirar seu desencanto.

Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que não possuiria.

[Cecília Meireles, in 'Viagem']

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Ouvir o inaudível...

Ilustr.: Gabrielle Grimard

Um rei mandou o filho estudar no templo de um famoso Mestre, com o objectivo de o preparar para ser uma grande pessoa. Quando o príncipe chegou ao templo, o Mestre mandou-o sozinho para uma floresta. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta.

Quando o príncipe voltou ao templo, um ano depois, o Mestre pediu-lhe para descrever todos os sons que conseguira ouvir.
Então disse o príncipe:
- Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa a bater na relva, o zumbido das abelhas, o barulho do vento a cortar os céus...

Quando terminou o relato, o Mestre pediu que o príncipe voltasse à floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu à ordem do Mestre, e comentou para si mesmo:
- Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta!

Por dias e noites ficou sozinho a ouvir, a ouvir, a ouvir... mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao Mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz e pensou:
- Estes devem ser os sons que o Mestre queria que eu ouvisse.

Sem pressa, ficou ali a ouvir pacientemente. Queria ter certeza de que estava no caminho certo. Quando voltou ao templo, o Mestre perguntou o que mais conseguira ouvir.
Respeitosamente o príncipe disse:
- Mestre, quando prestei atenção, pude ouvir o inaudível som das flores a abrirem, o som do sol a nascer e a aquecer a terra e da relva a beber o orvalho da noite.

O Mestre sorriu, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse:
- Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa. Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, os seus sentimentos mudos, os medos não confessados e as queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança à sua volta, entender o que está errado e atender às reais necessidades de cada um.

A epígrafe desta história nem precisa comentários, é mesmo para ser saboreada no interior do seu coração:

"A vida contrai-se ou expande-se proporcionalmente à coragem do indivíduo."

[Anais Nin]

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Mulher ideal

Ilustr.: Virginia Palomeque




Um homem só encontra a mulher ideal quando
a olhar no seu rosto e vir um anjo e,
tendo-a nos braços,
tiver as tentações que só os demónios provocam...

[Pablo Neruda]

terça-feira, 24 de junho de 2014

Depende

Ilustr.: Alberto Pancorbo





Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.

[Clarice Lispector]

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Ninguéns

Ilustr.: Jean Delville



Toda a vida acreditei:
amor é os dois se duplicarem em um.
Mas hoje sinto: ser um é ainda muito. De mais.
Ambiciono, sim, ser o múltiplo de nada.
Ninguém no plural. Ninguéns.

[Mia Couto in "O Fio das Missangas"]

domingo, 22 de junho de 2014

Girassol

Ilustr.: Beth Parker Art
O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio.
O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma e mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude.
A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem.
“Você o tratava mal, agora está arrependido?”
“Não, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal.
É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava."

[Carlos Drummond de Andrade]



sábado, 21 de junho de 2014

Despedida

Ilustr.: Caravaggio
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.

[Mia Couto]

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Desejos grandes

Ilustr.: Chanelle Kotze


Gostaria de te desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente.
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes.
E que eles possam te mover a cada minuto, ao rumo da sua felicidade!

[Carlos Drummond de Andrade]

quinta-feira, 19 de junho de 2014

A manhã raia. Não: a manhã não raia.

Ilustr.: Evgeni Gordiets
A manhã raia. Não: a manhã não raia.
A manhã é uma coisa abstracta, está, não é uma coisa.
Começamos a ver o sol, a esta hora, aqui.
Se o sol matutino dando nas árvores é belo,
É tão belo se chamarmos à manhã «Começarmos a ver o sol»
Como o é se lhe chamarmos a manhã,
Por isso se não há vantagem em por nomes errados às coisas,
Devemos nunca lhes por nomes alguns.

[Alberto Caeiro]

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Porque ela... ela é que sabe de si

Ilustr.: Denis Nunez Rodriguez
Tu não sabes quem eu sou, mas eu sei quem tu és... e só preciso de um minuto da tua atenção.

Espero que saibas a sorte que tens. O quanto eu gostaria de estar na tua pele. Poder estar na mesma cama que ela todas as manhãs. Ajudá-la a acordar da má disposição matinal.

Espero que saibas que ela não te vai falar enquanto não lavar os dentes. Não é por mal... é por medo de perder o encanto aos teus olhos. Que a consideres um ser humano comum.
Espero que saibas que ela gosta de aproveitar cada raio de sol, e que o café a deixa mal disposta.

Que escolhe a roupa que vai vestir na noite anterior, só para poder ter mais cinco minutos de sono pela manhã. Que o despertador toca cinquenta vezes até que se levante, e que mesmo assim, consegue chegar a horas.

Quero também dizer-te que ela adora histórias do fantástico. Mas não de terror! Que é capaz de saber o nome de todas as personagens de um livro antigo, mas que não se vai esforçar para decorar o nome de todos os teus amigos à primeira...
Porque ela... ela é que sabe de si.

Tu nunca serás uma sorte para ela. Sorte é poderes tê-la na tua vida.
Sabes? Ela não é uma romântica por natureza, mas uma demonstração espontânea da tua parte vai fazê-la fraquejar. Porque ela é segura e doce ao mesmo tempo.

Ela não sabe cozinhar, mas vai esforçar-se para fazer o teu prato preferido. E se não estiver bom, ela vai rir-se do falhanço, em vez de corar.

E quando ela ri... quando ela ri eu tenho vontade de chorar. Não de tristeza, mas porque cada gargalhada é como uma nota musical que toca ao coração e me faz querer dançar.

Ela é tudo o que eu queria e nunca soube que tive.

Aprende que a arritmia que sentes com ela é normal!
E que a falta dela é um vazio igual à morte.
Espero que sejas tudo aquilo que eu nunca fui.
Espero que a trates bem. Porque se lhe partires o coração vais perdê-la para sempre.
Pudesse eu ter lido o futuro...

[Ana Luisa Bairos / Joana Pacheco]

terça-feira, 17 de junho de 2014

Não sei

Ilustr.: Salvador Dali
Não sei. Falta-me um sentido, um tacto
Para a vida, para o amor, para a glória...
Para que serve qualquer história,
Ou qualquer fato?

Estou só, só como ninguém ainda esteve,
Oco dentro de mim, sem depois nem antes,
Parece que passam sem ver-me os instantes,
Mas passam sem que o seu passo seja leve.

Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.

Não ser nada, ser uma figura de romance,
Sem vida, sem morte material, uma ideia,
Qualquer coisa que nada tornasse útil ou feia,
Uma sombra num chão irreal, um sonho num transe.

[Álvaro de Campos]

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Aguarda

Ilustr.: HJ Story






Aguarda as surpresas do tempo, agindo sem precipitação.
Se cada noite é nova sombra, cada dia é nova luz.

[Chico Xavier]

domingo, 15 de junho de 2014

Ainda vivo

Ilustr.: Matteo Arfanotti

Já chorei a ouvir música e a ver fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial.
Mas vivi, e ainda vivo.

[Charles Chaplin]

sábado, 14 de junho de 2014

Biografia

Ilustr.: Salvador Dali




Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.

[Alberto Caeiro]

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Post scriptum

Ilustr.: Orlando Boffill Hernandez
Agora regresso à tua claridade.
Reconheço o teu corpo, arquitectura
de terra ardente e lua inviolada,
flutuando sem limite na espessura
da noite cheirando a madrugada.

Acordaste na aurora, a boca rumorosa
de um desejo confuso de açucenas;
rosa aberta na brisa ou nas areias,
alta e branca, branca apenas,
e mar ao fundo, o mar das minhas veias.

Estás de pé na orla dos meus versos
ainda quente dos beijos que te dei;
tão jovem, e mais que jovem, sem mágoa
- como no tempo em que tinha medo
que tropeçasses numa gota de água.

[Eugénio de Andrade]

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Futebol

Ilustr.: Hall Groat II






A vida é como um jogo de futebol,
cada lance pode definir a sua trajetória.

[Mikael Johnathan]

quarta-feira, 11 de junho de 2014

The Silence

Ilustr.: Denis Nunez Rodriguez

You lift me up, then knock me down
I'm never sure just what to feel when you're around
I speak my heart, but don't know why
Cause you don't ever really say what's on your mind

It's like I'm walking on broken glass
I wanna know but I don't wanna ask

So say you love me
So say you need me
Don't let the silence
Do the talking
Just say you want me
Oh you don't need me
Don't let the silence do the talking

You let me in, but then sometimes
Your empty eyes just make me feel so cold inside
When I'm with you, it's like rolling dice
Don't know when and how your gonna make me cry

So say you love me
So say you need me
Don't let the silence
Do the talking
Just say you want me
Oh you don't need me
Don't let the silence do the talking

It's killin' me (the silence)
It's killin' me, yeah (the silence)
Hooowooo (the silence)

It's like I'm walking on broken glass
I wanna know but I don't wanna ask

Cause once you say it you can't take it back
If it's then end then please just make it pass

So say you love me
So say you need me
Don't let the silence
Do the talking
Just say you want me
Oh you don't need me
Don't let the silence do the talking

Wooohoooo
(The Silence)

You lift me up, then knock me down
I'm never sure just what to feel when you're around.

[Alexandra Burke - The Silence]

terça-feira, 10 de junho de 2014

A vida me ensinou

Ilustr.: Ronald Companoca

A vida me ensinou...
A dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração;
Sorrir às pessoas que não gostam de mim,
Para lhes mostrar que sou diferente do que elas pensam;
Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade, para que eu possa acreditar que tudo vai mudar;
Calar-me para ouvir; aprender com meus erros.
Afinal eu posso ser sempre melhor.
A lutar contra as injustiças; sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo.
A ser forte quando os que amo estão com problemas;
Ser carinhoso com todos que precisam do meu carinho;
Ouvir a todos que só precisam desabafar;
Amar aos que me machucam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafetos;
Perdoar incondicionalmente, pois já precisei desse perdão;
Amar incondicionalmente, pois também preciso desse amor;
A alegrar a quem precisa;
A pedir perdão;
A sonhar acordado;
A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário);
A aproveitar cada instante de felicidade;
A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar;
Me ensinou a ter olhos para "ver e ouvir estrelas",
embora nem sempre consiga entendê-las;
A ver o encanto do pôr-do-sol;
A sentir a dor do adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser;
A abrir minhas janelas para o amor;
A não temer o futuro;
Me ensinou e está me ensinando a aproveitar o presente,
como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesmo tenha que lapidar, lhe dando forma da maneira que eu escolher.

[Charles Chaplin]

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sê paciente!

Ilustr.: Ilene Meyer


Sê paciente;
espera que a palavra amadureça e
se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

[Eugénio de Andrade]

domingo, 8 de junho de 2014

O Bem e o Mal

Ilustr.: Twin Flames

Um ancião índio norte-americano, certa vez, descreveu seus conflitos internos da seguinte maneira:
- Dentro de mim há dois cachorros. Um deles é cruel e mau.
O outro é muito bom, e eles estão sempre brigando.
Quando lhe perguntaram qual o cachorro que ganhava a briga, o ancião parou, refletiu e respondeu:
- Aquele que eu alimento mais frequentemente.

[Paulo Coelho]

sábado, 7 de junho de 2014

Infância

Ilustr.: Ruth Morehead



Quando vejo uma criança,
ela inspira-me dois sentimentos:
ternura, pelo que é,
e respeito pelo que pode vir a ser.

[Louis Pasteur]

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Afogamento

Ilustr.: Rebecca Bender



O que afoga alguém não é o mergulho,
mas o fato de permanecer debaixo de água.

[Paulo Coelho]

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Conquista

Ilustr.: Joel Brinkerhoff


Se conquistarmos os dias de nossa vida...
um a um...
com calma e paciência...
Quando somarmos no final as nossas conquistas...
Teremos como resultado uma vida vitoriosa.

[Autor desconhecido]

quarta-feira, 4 de junho de 2014

A negra fúria Ciúme

Ilustr.: 'God and Goddess paganism'

Morre a luz, abafa os ares
Horrendo, espesso negrume,
Apenas surge do Averno
A negra fúria Ciúme.

Sobre um sólio cor da noite
Jaz dos Infernos o Nurne,
E a seus pés tragando brasas
A negra fúria Ciúme.

Crespas víboras penteia,
Dos olhos dardeja lume,
Respira veneno e peste
A negra fúria Ciúme.

Arrancando à Morte a fouce
De buído, ervado gume,
Vem retalhar corações
A negra fúria Ciúme.

Ao cruel sócio de Amor
Escapar ninguém presume,
Porque a tudo as garras lança
A negra fúria Ciúme.

Todos os males do Inferno
Em si guarda, em si resume
O mais horrível dos monstros,
A negra fúria Ciúme.

Amor inda é mais suave,
Que das rosas o perfume,
Mas envenena-lhe as graças
A negra fúria Ciúme.

Nas asas de Amor voamos
Do prazer ao áureo cume,
Porém de lá nos arroja
A negra fúria Ciúme.

Do férreo cálix da Morte
Prova o funesto azedume
Aquele a quem ferve n'alma
A negra fúria Ciúme.

Do escuro seio dos fados
Saltam males em cardume:
O pior é o que eu sofro,
A negra fúria Ciúme.

Dos imutáveis destinos
Se lê no idoso volume
Quantos estragos tem feito
A negra fúria Ciúme.

Amor inda brilha menos
Do que sutil vagalume,
Por entre as sombras que espalha
A negra fúria Ciúme.

[Bocage, in 'Quadras']

terça-feira, 3 de junho de 2014

Única

Ilustr.: Jessica Galbreth





Nunca existiu uma pessoa como tu antes,
não existe ninguém neste mundo como tu agora e nem nunca existirá.
Vê só o respeito que a vida tem por ti.
És uma obra de arte — impossível de repetir,
incomparável, absolutamente única.

[Osho]

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Baste-se!

Ilustr.: Romero Britto
Você vem ao mundo sem coisa alguma. Assim, uma coisa é certa: nada lhe pertence. Você vem absolutamente despido, porém com ilusões. É por isso que toda criança nasce com as mãos fechadas, cerradas, como se estivesse trazendo tesouros, e todos morrem com as mãos abertas, como se estivéssemos abrindo mãos de tudo.

Nada lhe pertence, então você está preocupado com qual insegurança? Nada pode ser roubado, nada pode ser tirado de você. Tudo o que você está usando pertence ao mundo. E um dia você terá que deixar tudo aqui. Você não será capaz de levar coisa alguma com você. Será que você está no caminho certo?

Talvez alguns indícios possa te responder isso, como por exemplo:
As suas tensões estão a desaparecer? Você sente-se mais e mais senhor de si mesmo e mais calmo? Encontra beleza em coisas que jamais concebeu serem belas? As menores coisas começaram a ter imenso significado? O mundo inteiro torna-se mais e mais misterioso a cada dia? Você sente a vida não como um problema, mas como uma dádiva, uma bênção, uma graça?

Essas indicações crescerão continuamente se você estiver na pista certa. Baste-se! Não dependa de nada para ser feliz. Você tem a VIDA!

[Osho]

domingo, 1 de junho de 2014

Esperança

Ilustr. in Regina Gomes / http://pintrest.com





Sentia-me imensamente bem.
Mas acho que não era de felicidade
Era esperança.

[Vanessa Leonardi]