terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Energias

Ilustr.: Amy Elizabeth


Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica
quando tocamos a pessoa certa.

[Carlos Drummond de Andrade]

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

És tu...

Ilustr.: Andrius Kovelinas

Lá em baixo ainda anda gente
apesar de ser tão tarde
há quem cresça no escuro
e do dia se resguarde.

Há quem corra sem ter braços
para os braços que os aceitam
e seus braços juntos crescem
e entrelaçados se deitam

e a manhã traz outros braços
também juntos de outra forma
de quem luta e ao lutar
a si mesmo se transforma.

[Sérgio Godinho, in 'Lá em baixo', 1979]

domingo, 29 de dezembro de 2013

Significado

Ilustr.: Fabrizia Tocchini



Nada acontece por acaso.
Não existe a sorte.
Há um significado por detrás de cada pequeno ato.
Talvez não possa ser visto com clareza imediatamente,
mas sê-lo-á antes que se passe muito tempo.

[Richard Bach]

sábado, 28 de dezembro de 2013

Embalo

Ilust.: Nicoletta Tomas Caravia


Ah, não há nada mais divino e sublime do que o som do meu amor!
Amor que embala o meu sono e protege os meus sonhos...
Abraça-me e divide comigo o ar que muitas vezes me falta.
Não há lugar mais seguro do que os seus braços!
Não há repouso completo se eu não estiver no aconchego do seu peito!

[Jackie Freitas]

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Imperfeição

Ilust.: Nicoletta Tomas Caravia



Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter;
repugná-la-íamos, se a tivéssemos.
O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.

[Fernando Pessoa]

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Solitário

Ilustr.: Mecuro B Cotto


Aquele que conhece
a arte de viver consigo próprio
ignora o aborrecimento.

[Erasmo]

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Canto de Natal

Ilustr.: Holly Sierra



O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.

[Manuel Bandeira,
in 'Antologia Poética - Manuel Bandeira', 2001]

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Rituais

Ilust.: K. Eileena
Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa.
Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.
Quanto mais a hora estiver a chegar, mais eu me sentirei feliz.
Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!
Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...
É preciso criar rituais.

[Antoine de Saint-Exupéry]

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Aborrecimento

Ilustr.: Nicoletta Tomas Caravia




A meditação é um vício solitário
que cava no aborrecimento
um buraco negro
que a tolice vem preencher.

[Paul Valéry]

domingo, 22 de dezembro de 2013

Tô bem

 Ilustr.: Twin Flames
Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém.
Tô me aproximando de tudo que me faz completo, me faz feliz e que me quer bem.
Tô aproveitando tudo de bom que essa nossa vida tem.
Tô me dedicando de verdade pra agradar um outro alguém.
Tô trazendo pra perto de mim quem eu gosto e quem gosta de mim também.
Ultimamente eu só tô querendo ver o "bom" que todo mundo tem.
Relaxa, respira, se irritar é bom pra quem?
Supera, suporta, entenda: isento de problemas eu não conheço ninguém.
Queira viver, viver melhor, viver sorrindo e até aos cem.
Tô feliz, tô despreocupado, com a vida eu tô de bem.

[Caio Fernando Abreu]

sábado, 21 de dezembro de 2013

Pano Cru

Ilust.: Slava Fokk
O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a acção - a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a acção é, por sua natureza, a projecção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alheio, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir. Para agir é, pois, preciso que nos não figuremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Quem simpatiza pára. O homem de acção considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte - ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima.

[Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego']

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

E pronto

Ilustr.: Pierre Carrier-Belleuse
Agora não. Talvez daqui a uma hora, amanhã, depois de amanhã, mais tarde, mas agora não. Agora aguen­ta-te, finge que és forte, sorri ou, pelo menos, puxa os cantos da boca para cima: se mantiveres os olhos se­cos vão pensar que é um sorriso. Então basta pedir
- Com licença
e saíres. Quantos metros até à porta? Seis? Sete? Continua com os cantos da boca puxados para cima, caminha de lado se não tens espaço, vai pedindo
- Com licença
toca ao de leve costas, ombros
- Com licença
contorna esse homem gordo que te não ouviu
os homens gordos nunca ouvem
quatro metros, três metros, mais costas, mais ombros, a música mais intensa porque um amplificador mesmo em ci­ma de ti, já nem vês o bar, já nem vês a pista, vês cabeças, ca­ras, nenhum braço que te acene, te chame, cabeças que não tor­narás a ver, caras que nunca viste, o homem gordo ainda, a fi­car lá para trás, distante, duas costas, dois ombros e a porta, uma costas, uns ombros e a porta, nenhumas costas, nenhum ombros, a porta, ou seja a primeira porta, o bengaleiro a seguir, entrega a senha à empregada, recebe o casaco, agradece o ca­saco aumentando o sorriso
não soltes os cantos da boca
devias ter entregue uma moeda com a senha
entregaste?
a segunda porta, a rua, as pessoas que esperam para entrar e te olham com inveja, o segurança de braços afastados a impedir uma rapariga
- Um momento
pisca um olho ao segurança
pisca-se sempre um olho amigo ao segurança
cumprimenta-o
- Até amanhã
ou assim, tanto faz, não se entende com a música, aceita a palmadinha do segurança que afinal te conhece
- Tão cedo?
e as pessoas que esperam para entrar não somente com inveja, com respeito, hesitando quem serás, quem não se­rás, uma delas
a esperta
para o segurança, a apontar-te
- Sou prima desta tipa
o segurança a aumentar no interior da camisa
- Disse um momento não disse?
já quase ninguém, já ninguém, tu sozinha na esquina, procura as chaves do carro na mala entre os lenços de papel e os óculos escuros, deixaste o automóvel ali em baixo, na praceta, não esta travessa, a seguinte, a seguinte também não, havia um chafariz por aqui, depois da padaria fechada talvez
é uma padaria
que estes bairros antigos parecem-se todos, acanha­dos, estreitos, os caixotes do lixo a atravancarem o passeio pa­ra além do que os moradores deitam fora, uma cadeira, um fo­gão, um armário amolgado, aí está o chafariz no fim de contas não à esquerda, à direita, com uma luz municipal em cima, a coroa da monarquia, uma data na pedra
1845
nenhuma bica a deitar água, a praceta e o seu qua­drado de relva, o banco de madeira a que faltam duas ripas, um jipe e passando o jipe o teu carro, quando chegaste en­tre um jipe e uma furgoneta e agora entre um jipe e outro ji­pe, os dois tão unidos ao automóvel que vais gastar um sé­culo a torcer o volante, a avançar, a recuar, a tirá-lo de mo­do que bates devagarinho neste, bates devagarinho naquele, talvez desta vez
não, um avanço e um recuo ainda
um drogado fraternal a auxiliar a manobra, vasculhar na carteira
lenços de papel, óculos escuros, a agenda com a pá­gina do telefone do dentista solta
em busca de uma moeda para o drogado
a moeda que devias ter dado no bengaleiro
e o drogado a olhar-te sem olhar a moeda de forma que tranca o carro depressa, o estalido das portas e o drogado a troçar-te mas com os olhos sérios, a espalmar o nariz no vi­dro, a diminuir, inofensivo, à medida que avanças, becos, traves­sas, sentidos proibidos, onde se apanha a avenida, onde raio se apanhará a avenida, novos sentidos proibidos, uma camioneta de lavar a rua a impedir-te um caminho que pensas conhecer, uma seta a obrigar-te a contornar uma estátua que não é bem uma estátua, é metade de um homem a emergir de um calhau e nisto, sem que dês conta, o rio, armazéns, contentores, uma espécie de guarita e perto da guarita os pescadores da noite jo­gando linhas ao Tejo, o cheiro do gasóleo, o cheiro da vazante, percebes a água por reflexos, escamas, não necessitas de sorrir nem de puxar os cantos da boca, inclina um bocadinho o ban­co, acomoda-te melhor, liga o rádio, experimenta um cigarro e a página do telefone do dentista a surgir da carteira juntamen­te com o maço
não apenas o dentista, Diná, David, Duarte
um papelinho amarelo colado por baixo do telefone a lembrar-te
quarta-feira onze
a consulta, guarda a página, se não achas o isqueiro tens o isqueiro do carro, empurra-se e daqui a nada salta com a ponta vermelha, não gostas do isqueiro do carro porque o ta­baco queimado fica preso aos aneizinhos em brasa, um dos pes­cadores procura isco na alcofa, os morros de Almada, uma paz tão grande não é, um sossego lento não é, uma calma não é, a tristeza a dissolver-se, fecha os olhos, descansa, e vais ver que daqui a nada já não te lembras que acabámos, daqui a nada já nem te lembras de mim.

[António Lobo Antunes, in Visão, 23 /05/02]

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Saudade

Ilustr.: Elina Ellis


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

[Pablo Neruda]

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Acordo de noite

Ilustr.: Cécile Vallée / Les toiles d'Az
Acordo de noite subitamente,
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora.
O meu quarto é uma cousa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena cousa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca
Porque a única cousa que o meu relógio simboliza ou significa
Enchendo com a sua pequenez a noite enorme
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez...

[Alberto Caeiro, in 'O Guardador De Rebanhos', 07-05-1914]

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Inacabado

Ilustr.: Alexa Meade


Ela saiu, não sorriu, mal me olhou, mas deixou ficar
O nosso amor pelo chão para eu arrumar
Deixou a dor a correr e a saudade na nossa mesa
Deixou o amor por fazer e a tristeza no ar.

[Paulo de Carvalho]

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Passo certo

Ilust: Lucelle Raad





Sei de cada passo que dei,
talvez nem todos tenham sido necessários,
mas todos foram úteis de alguma forma.

[Fernanda Almeida]

domingo, 15 de dezembro de 2013

Dádiva

Ilustr.: Donald Zolan



Da vida não quero muito.
Quero apenas saber que
tentei tudo o que quis,
tive tudo o que pude,
amei o que valia a pena
e perdi apenas o que,
no fundo, nunca foi meu...

[Carla de Paula]


sábado, 14 de dezembro de 2013

Indignação



Só há duas opções nesta vida:
resignar-se ou indignar-se.
E eu não me vou resignar nunca.

[Darcy Ribeiro]


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sabes do que falo

Ilustr.: Chanelle Kotze


Não cheguei a dizer a palavra que pediste.
O nada que roubámos à cauda de outros passos.
Agora tudo está diferente.
Som algum pontua o chão da noite, os suspiros há muito deixaram de ser perene abrigo.
Limitei-me a perseguir sombras certeiras, vozes, afinal, que decidimos abandonar.
Sabes do que falo.
E isso bastará.

[Ricardo Gil Soeiro, in 'Da Vida das Marionetas']

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Corpo e mente

Ilustr.: Alberto Pancorbo




Eu quero mesmo é alguém que faça meu corpo querer companhia nos momentos em que minha mente insiste pela solidão.

[Caio Abreu]

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Orgulho

Ilustr.: Sedova Tatiana





O orgulho não quer dever e
o amor próprio não quer pagar.

[François La Rochefoucauld]


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Abraço

Ilust.: HJ Story






Aquele abraço era o lado bom da vida,
mas para valorizá-lo eu precisava viver.
E, que irónico: para viver eu precisava perdê-lo...

[Tati Bernardi]


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Antes de tudo

Fonte: http://www.pinterest.com/illustratorerik/moon-and-stars/
Um curto e sincero devaneio, escrito por um adolescente num sábado frio e comum, mais um sábado.

Hoje, pude perceber, que assim como todo o mundo, eu tenho o direito e o dever de ser feliz. O direito, porque posso, assim como qualquer um, correr atrás dos meus sonhos, e torná-los reais. O dever, porque também sei, que assim como EU quero ser feliz, outras pessoas querem ver minha felicidade, e que ser feliz, os deixará consequentemente felizes também. Cansei de amar pela metade, de viver pela metade, a partir de hoje eu prometo a mim mesmo, e aos meus amigos, aos que vivem comigo diariamente, que serei melhor, cada dia melhor, cansei de quem não me quer bem, de quem não pode me fazer feliz.

Vou gostar de mim antes de tudo, gostar de quem gosta de mim, de quem está à minha volta, quanto ao resto... eu apenas desejo muita sorte, e que você encontre o mesmo caminho que eu encontrei, o caminho de se aceitar, de se querer bem, o caminho do amor próprio.

Pessoas deixam marcas em nossas vidas, e isso não é por acaso, cada pessoa que entra na nossa vida, não passa por acaso, sempre tem algo a ensinar-nos, e connosco a aprender.

Mas, devo ressaltar, que hoje, encarando-me das maneiras mais estranhas e constrangedoras possíveis perante o espelho, pude perceber...

A única pessoa que pode determinar que rumos minha vida tomará, quão felizes ou tristes eles serão, estava na minha frente...

- Essa pessoa sou eu.

[Kayque Meneguelli]

domingo, 8 de dezembro de 2013

Fragmentos de um Amor

Ilustr.: 'Pintrest'
Na minha mente, tua lembrança
No meu coração, teu amor
No meu corpo, tuas mãos
No meu desejo, teu calor.

Na minha vida, teu rastro
Nos meus sonhos, tua imagem
Nos meus olhos, teu olhar
No meu peito, tua saudade.

Na minha dança, teu molejo
Na minha pele, teu cheiro
Na minha boca, teu gosto
No meu paladar, teu tempero.

Nos meus ouvidos, tua música
Nas madrugadas, tua presença
Na minha fantasia, tua espera
No meu lado, tua ausência!

[Linda Edwards]

sábado, 7 de dezembro de 2013

Tenho medo

Ilustr.: Margarita Sikorskaia
— De onde tu és? — perguntou Deolinda.
— Sou da Guarda.
Ingénua malícia no olhar, ela sussurrou no ouvido de Sidónio Rosa:
— Tu és o meu anjo-da-guarda.
O riso dela ganhou espessura, inundando-lhe o corpo. Depois, o corpo já não lhe bastava e ela se encostou nele. O português viu as suas defesas desmoronarem. Os braços dele envolveram-na, a medo. Quando deram conta, estavam enleados, sem saber que parte pertencia a um e a outro. A Praça do Rossio, em Lisboa, ficou, de repente, despovoada. Um homem e uma mulher trocavam beijos e o seu amor desalojava a cidade inteira.
— Tens medo de fazer amor comigo?
— Tenho — respondeu ele.
— Por eu ser preta?
— Tu não és preta.
— Aqui, sou.
— Não, não é por seres preta que eu tenho medo.
— Tens medo que eu esteja doente…
— Sei prevenir-me.
— É porquê, então?
— Tenho medo de não regressar. Não regressar de ti.
Deolinda  franziu  o  sobrolho.  Empurrou  o  português  de  encontro  à  parede,  colando-se  a  ele.  Sidónio  não  mais regressaria desse abraço.
— Que olhar é meu nos olhos teus?
Nessa noite se solveram, mãos de oleiro, salvando o outro de ter peso. Nessa noite o corpo de um foi lençol do outro.
E ambos foram pássaros porque o tempo deles foi antes de haver terra. E quando ela gritou de prazer o mundo ficou cego: um moinho de braços se desfez ao vento. E mais nenhum destino havia.
— Amar — disse ele — é estar sempre chegando.
Um  ano  depois,  sentado  sobre  um  banco  de  pedra,  o  português  sente  estar  ainda  chegando  a Vila Cacimba enquanto convoca as memórias do encontro com a mulata Deolinda. O que faltava, agora, para que ele se sentisse já chegado?

[Mia Couto, in 'Venenos de Deus, Remédios do Diabo', cap. 12]

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Hear me, feel me

Healed (healed), or are you still just reeling?
Are you fine (fine)? Have you found
A way to escape?
Are you here (here) just because I need you?
Can we hole up, a big freeze
Is heading our way?

We are on a hiding to nowhere
We still hope (hope), but our dreams
Are not the same, no
And I, I lost before I started
I'm collapsing in stellar clouds of gas

Hear me
What words just can't convey
Feel me
Don't let the sun in your heart decay

Fight (fight) or will you show me mercy (mercy)?
We've expelled (expelled), the goodness
From our hearts (hearts)
Are you here (here), just to prove you're winning?
Can you hole up, and ride out this
Electrical storm?

We destroyed something beautiful
We have faith (faith), but our truths
Are not the same, no
Don't give up (up), don't let the magic leave us (leave us)
Stop the loneliest force becoming
King of the universe

Hear me
What words just can't convey
Feel me
Don't let the sun in your heart decay

Don't give up, don't let the magic leave us
We're collapsing in stellar clouds of gas

Hear me
What words just can't convey
Feel me
I won't let the sun in your heart decayar clouds of gas

Hear me
What words just can't convey
Feel me
I won't let the sun in your heart decay

[Muse, Big Freeze, 2012]


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Invictus

Ilustr.: Don Bell

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

[William Ernest Henley]

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Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por minh’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

[William E Henley / Tradução: André C. S. Masini]

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Serenidade

Ilustr.: Ruth Morehead
Concede-me, Senhor,
a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar;
a Coragem para modificar as que posso e
a Sabedoria para distinguir umas das outras.

Vivendo um dia de cada vez,
Desfrutando um momento de cada vez,
Recebendo as dificuldades como um caminho para alcançar a paz,
Aceitando, como Jesus fez, o mundo pecador tal como é, e não como gostaria que fosse,
Confiando que o Senhor fará bem todas as coisas se eu me render à Sua vontade,
Para que eu possa ser moderadamente feliz nesta vida
e supremamente feliz com Ele,
e para sempre, na próxima.
Amem.

[Reinhold Niebuhr, 1943]


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A razão e a pele

Ilustr.: Cécile Vallée / Les toiles d'Az
Quem faz uma vez, não faz duas necessariamente, agora, quem faz duas, com certeza faz três!

E não existe método algum, não existe explicação. Sempre que a batalha entre a razão e a pele é travada, não há como questionar! A pele ganha sempre no primeiro round.
Você pode-se afastar de todos, família, amigos, conhecidos, namoradas(os), e até de seus inimigos, se é que você tem algum.

A questão é que depois de um tempo, você simplesmente percebe que não há como fugir ou se esconder do mundo. A verdade é que...
Não é você que vive no mundo, é o mundo que vive em você.

Seus sentimentos, suas escolhas e atitudes, todas elas vão sendo moldadas todos os dias por acontecimentos corriqueiros.

Então, veja por outro ângulo, você não é resultado das suas escolhas, você é resultado de acontecimentos que antecedem as  suas escolhas, elas são simplesmente, diria, 'métodos empíricos' de descobrir se nós estamos certos, ou se os outros é que estão certos.

A pergunta querer, e não ser certo, torna-se um paradoxo para uma grande maioria, o caminho mais fácil nem sempre é o que nós buscamos. Nem sempre é o que mais nos agrada e encanta.

Portanto, busque, busque os seus caminhos, mas cuidado, não magoe ninguém nessa procura.

[Kayque Meneguelli]

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Civilização

Ilustr.: Viviana González




Entre os selvagens, os fracos de corpo ou mente são logo eliminados; e os sobreviventes geralmente exibem um vigoroso estado de saúde.
Nós civilizados, por nosso lado, fazemos o melhor que podemos para deter o processo de eliminação: construímos asilos para os imbecis, aleijados e doentes... Assim os membros fracos da sociedade civilizada propagam a sua espécie.
Ninguém que tenha observado a criação de animais domésticos porá em dúvida que isso deve ser altamente prejudicial à raça humana...

[Charles Darwin]

domingo, 1 de dezembro de 2013

Urgência de Abraços

Ilustr.: George Tooker
Há cada vez mais uma enorme urgência de abraços
abraços que abriguem olhares cansados
abraços que respirem profundamente as dores alheias

abraços que bebam lágrimas e palavras (in)contidas

Há cada vez mais uma enorme urgência de abraços
abraços que transportem esperança e serenidade
abraços que levem sorrisos e sílabas quentes
abraços que guardem em si todos os futuros do amanhã
abraços que curem e que amem e que respeitem

Há cada vez mais uma enorme urgência de abraços
abraços que libertem e ousem outros abraços
abraços que respirem e deixem poemas nos outros abraços
abraços que congreguem todos os afectos
abraços que silenciem tristezas e deixem abraços abertos
abraços que se fechem nos outros abraços
abraços que se confundam e se tatuem e se fundam noutros abraços

Há cada vez mais uma enorme urgência de abraços !

[António Barroso Cruz]