quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A ordem da tristeza

Ilustr.: Ronald Companoca
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De tal maneira que deixei de sonhar. Só os pesadelos me visitavam. Eu estava aleijada desse órgão que segrega as matérias do sonhar. Eu estava doente sem doenças. Sofria dessas maleitas que só Deus padece. Aconteceu assim: primeiro, me acabou o riso; depois, os sonhos; por fim, as palavras. É essa a ordem da tristeza, o modo como o desespero nos encerra num poço húmido. 

[Mia Couto, in 'A varanda do frangipani', A confissão de Marta, 13ºCap.]

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