sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Medo de dizer quem somos

Ilustr. from http://www.carsa.rs/bogocovek-i-robocovek/

Porque razão algumas vezes, ou até muitas vezes, temos medo de dizermos quem somos?

Nós temos medo de dizer quem somos verdadeiramente, porque o outro pode não gostar e, o que somos, a nossa pessoa, a nossa identidade, a nossa história, é tudo o que temos para dar ao outro e a nós mesmos, sobretudo a nós mesmos. E uma invalidação da nossa pessoa pode ser arrasadora. Mas importa o que os outros pensam de nós? Sim, importa, e deverá ser somente para quem é fundamentalmente importante para nós. Mas nem sempre é assim. 

Nós nascemos e existimos, ganhamos um significado enquanto pessoas, na relação com o outro. Desde sempre e para sempre. Por conseguinte, qualquer distorção relacional é sempre desagradável. Contudo, no fim, percebemos que somos nós quem decide continuar a atribuir importância a essa invalidação. Porquê? Porque na verdade, de alguma forma, quem invalidou a nossa pessoa fomos nós próprios. O outro, aquele que supostamente nos invalidou, continua a sua vida, nos seus afazeres. E nós? Nós continuamos na nossa jornada relacional com nós mesmos, a intra-pessoal. Somos sempre nós os primeiros e os últimos a fazer a crucificação da nossa pessoa. Os motivos, a ferida, a suposta invalidação que veio de fora, do outro, já existia na nossa vida de dentro e só por isso, repito, e só por isso, é que se criou a ilusão de que foi o outro que nos invalidou. Embora a nossa vida só se arquitecte e tenha sentido na relação com o outro, somos nós que a comandamos e decidimos o que fazer com as coisas que outro nos dá e que despertam o que já existe dentro de nós.

Então porque razão algumas vezes, ou até muitas vezes, temos medo de dizermos quem somos?
Porque mais do que nos convidar a lidar com a dor pela razão do outro não gostar de nós, trata-se essencialmente de nos convidar a olhar para a nossa vida de dentro e vermos coisas com as quais temos dificuldade em manejar, em pensar, em sentir.

[Virgílio Baltasar (José Virgílio Gouveia Baltasar)]

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