quarta-feira, 19 de março de 2014

Morreste-me

Ilustr.: Asunción Reyes Paiva

Pai,
Quero que saibas...
É o teu rosto que encontro. Contra nós, cresce a manhã, o dia, cresce uma luz fina. Olho-te nos olhos. Sim, quero que saibas, não te posso esconder, ainda há uma luz fina sobre tudo isto. Tudo se resume a esta luz fina a recordar-me todo o silêncio desse silêncio que calaste.

Pai.
Quero que saibas,
cresce uma luz fina sobre mim que sou sombra, luz fina a recortar-me de mim, ténue, sombra apenas. Não te posso esconder, depois de ti, ainda há tudo isto, toda esta sombra e o silêncio e a luz fina que agora és.

[José Luís Peixoto, in 'Morreste-me']

Sem comentários :

Enviar um comentário